POEMA A UM AMIGO (DES) CONHECIDO
E se, agora, somaste todos os momentos que tiveste de
desacudida tristeza.
Terias então outra vida,
dentro da tua vida,
de melancolia e solidão.
As palavras duras que te golpearam,
às vezes por voz amena.
As frases soltas da mais sutil ironia.
A indiferença coruscante.
O desprezo...
Puseram-te insone
na noite sem remédio.
Porém, irrisão, sabiam-te certo.
– revoltantes contradições humanas –
Puniram-te por elevar tuas duras certezas
quando todos aceitavam
o caminho do rebanho:
o conformismo doentio dos fracos.
Por vezes quase te destruíram,
mas recusaste o conformismo,
não compactuaste com o poder
degenerador.
E a ilusão alienatória
não envenenou tua consciência
do ser, da vida e da humanidade.
Se ainda tem esperança,
escuta
o que te fala este amigo desconhecida,
arrancando na noite o bálsamo da poesia,
ainda que pobre,
ainda que tímido.
Escuta!
Não estás sozinho!
Eu te conheço!
Somos muitos na face do planeta
e além, quem sabe?
Somos muitos:
Intangíveis,
malditos,
proscritos,
mas
Agentes ativos da história!
Somos muitos!
Não deixe que a solidão te envenene
e a noite se faça em cinzas
antes
da aurora prometida.
Mas o que digo...
Conheces muito bem, como eu,
o sabor deste cálice,
predestinado, afinal, à procura!
Na procura transcendemos,
na transcendência criamos
e na criação nos encontramos
Criador e Criatura.
Dante Gatto gattod@terra.com.br |