Usina de Letras
Usina de Letras
12 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50670)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->PIRACEMA -- 20/01/2002 - 08:34 (Juraci de Oliveira Chaves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


De Juraci de Oliveira Chaves

Parece-me que o rio hoje está piscoso.
Aqui deste parapeito observo - no meu àngulo de visão - mais de dez canoas, cada uma, com três pescadores. Elas deslizam sob o comando de um, enquanto os outros jogam as tarrafas que abrem sua roda godê no ar. Dias atrás, não se via este espetáculo. O rio secava, faltava chuva, ele estava preso, sem correnteza, sem alegria. Corria triste, quase não recebia água dos seus afluentes. Parecia sem braços, sem coração, sem reforço e pulso. As barragens hidroelétricas prenderam o líquido para produzir energia. Neste momento, chove fino mas constante. Deixo a água cair sobre mim. É gostoso. Quanto tempo não fazia isso. Os aquáticos também precisam disso.
A alagação, que colabora na desova e reprodução dos peixes, voltará pois a água cai aqui e nas cabeceiras. Chegou preguiçosa, mas com resultados. Pedras enormes já são banhadas carinhosamente pela água, enfraquecendo a cachoeira, calando o seu canto marulhento.
Uma tarrafa é içada cheia de peixes que travam uma luta para voltar ao rio. O pescador dá gargalhadas, apesar do tamanho pequeno das curimatãs. Sabe que é tempo de piracema mas, a barriga ignora a lei. Hoje tem comida na mesa, amanhã luz paga. É uma satisfação fora do comum. A família fica em casa a esperar pelo alimento. É sempre assim, todo dia. O peixe precisa procriar e o pescador precisa pescar, mesmo que para isso enfrente desafios inesperados. O imprevisível é constante. Quando não encontra o peixe, diminui a qualidade na mesa e a festa na chegada em casa, é tristonha.

A alegria dura pouco. Rapidamente, um pescador de cada embarcação mergulha, tentando dar sumiço nas tarrafas. Outro corre com o pescado ilha a dentro. Um outro consegue uma maneira criativa de ocultar o petisco. Com um peso de ferro atado no tesouro, mergulha-o de volta ao fundo do rio. Só regressa ao local quando não oferecer perigo. Mas o Sr. João Traíra não teve a mesma sorte. Foi pego pelos fiscais do Ibama. Perdeu tudo. Barco, tarrafa, ferramentas e pescados; até chorou.
Como chegar em casa de mãos vazias? Logo hoje que a canoa estava cheia.
Faz tempo não enchia.
No verão as chuvas se tornam frequentes e intensas com o aquecimento e aumento das águas nos rios. É a época de migração dos peixes para a reprodução. Eles nadam contra a correnteza para as cabeceiras dos rios, onde fecundam seus ovos. É um espetáculo a mais, este pular dos peixes contra a correnteza. Fazem coreografia no ar. Vejo isso daqui, onde me encontro. Diante dessa beleza, fico dividida...
Mas, o pescador precisa matar a fome... Só que hoje não é dia do caçador, é da caça.

Pirapora MG 2002

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui