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Teses_Monologos-->JUÓ BANANERE, UM POETA MACARRÔNICO. -- 17/02/2002 - 12:05 (guido carlos piva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em princípio vocês podem até estranhar, mas antes de começar a relatar sobre o poeta macarrônico Juó Bananere, como o título indica, tenho que necessariamente expor algo sobre o nosso grande poeta e escritor modernista Oswald de Andrade, visto que ele foi o causador do aparecimento de Bananere no cenário literário de nossa São Paulo antiga!
A guisa de informação, José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo em 1890. Presenciar a virada do século passado, aos 10 anos, foi marcante, como relembra o poeta já adulto: "Havíamos dobrado a esquina de um século. Entrávamos em 1900...”. São Paulo despertava para a industrialização e a tecnologia. Abria-se um novo mundo urbano, que Oswald logo assimilaria fascinado: o bonde elétrico, o rádio, o cinema, a propaganda com sua linguagem-síntese... Nenhum outro escritor do Modernismo ficou mais conhecido pelo espírito irreverente e combativo do que Oswald de Andrade. Sua atuação intelectual é considerada fundamental na cultura brasileira do início do século. A obra literária de Oswald apresenta exemplarmente as características do Modernismo da primeira fase. Pois bem, a necessidade de se citar Oswald é por ele ter sido o responsável indireto do aparecimento do irreverente poeta macarrônico Juó Bananére, que, com o sucesso de suas irreverentes poesias macarrônicas, se tornou uma das causas que marcaram o pré-modernismo e conseqüentemente, uma das que mais influenciaram o movimento dos intelectuais na Semana da arte Moderna em 1922 em qual teve o início a primeira fase do Modernismo em nossa terra.

O Moderno antes do Modernismo

Conhece a obra de Alexandre Marcondes Machado? _ não confundir com Antônio de Alcântara Machado... E o jornalista e escritor Juó Bananére? Se você respondeu não às duas perguntas, aqui vai uma pista: trata-se da mesma pessoa, aliás, criador e criatura; ou melhor, vamos por partes... Alexandre Ribeiro Marcondes Machado (Pindamonhangaba, 1892 - São Paulo, 1933) era engenheiro formado pela Escola Politécnica. Mesmo entre seus contemporâneos era praticamente um desconhecido, já que costumava escrever com o pseudônimo de Juó Bananére. Alem de ter escrito o seu famoso livro a “Divina Increnca”, uma sátira da Divina Comédia de Dante Aleghieri, Bananére, foi o cronista mais popular de São Paulo entre 1911 e 1915, sendo a principal atração da revista semanal "O Pirralho", uma publicação satírica fundada por Oswald de Andrade nos anos 10. Andrade escrevia para a revista uma coluna sob o pseudônimo Annibale Scipione, no macarrônico ítalo-paulista empregado pelos imigrantes italianos que viviam nos bairros operários de São Paulo. Ao viajar para a Europa, em 1912, Andrade transferiu a coluna a Alexandre Machado, que a transformou em um enorme sucesso. Eis o porquê da imprescindível citação de nosso grande poeta Oswald de Andrade!

O porquê da escrita macarrônica de Juó Bananere!

Nos finais do século XIX, a escravatura no Brasil, era uma realidade prestes a se findar. Surgiam inúmeros movimentos em pró de sua extinção, principalmente em São Paulo, onde, além de terem se tornado mais comuns, eram mais significativos e constituíam sério risco para a promissora cultura do café que se via ameaçada pela iminente abolição da escravatura. Foi na Itália, em crise, onde os fazendeiros buscaram a mão-de-obra para a possível substituição do trabalho escravo nas fazendas de café.
Os imigrantes, nas fazendas, trabalhavam duro, de sol a sol. Entre eles não havia luxo ou extravagância. Tudo era economia. Levavam uma vida simples, mas sempre esperançosos e incrivelmente felizes diante da possibilidade de realizarem o sonho de aqui ‘fazerem a América’. Logo que se adaptavam à nova vida nos cafezais, assim que possível, rumavam para a cidade.
Foi em meio a essas idas que, muitos dessa nova leva de imigrantes passaram a fixar moradia no centro urbano e a transformar a então pequena cidade, numa São Paulo gigante e industrial dos dias de hoje. Mais do que isso lhe suscitou feições, sabores, nomes, nova maneira de viver, falar e assim auxiliando a desenvolver bairros inteiros, como: Mooca, Brás, Bexiga, Bom Retiro e tantos outros. E isso acontecendo, Marcondes, na figura de Juó Bananere, inteligentemente se aproveitou para criar o macarrônico ao escrever suas irreverentes poesias.
Entre as características de Bananére, que escreveu crônicas, poesia e teatro, destaca-se a originalidade. A começar pela linguagem: ele criou seu próprio idioma, combinando italiano e português, como se imitasse a fala dos primeiros imigrantes europeus que se concentravam nos bairros paulistanos.
A essa mistura proposital de duas línguas para fazer uma paródia literária chama-se "macarronismo". Assim, quando se diz que o dialeto inventado por Bananére era "macarrônico", o termo, embora de origem italiana, não se aplica exclusivamente aos ítalo-paulistas. Também se costuma chamar de inglês ou francês "macarrônico" à língua falada por quem não a conhece bem. Já o macarronismo, como técnica literária, intencional e criativa, exige o domínio dos dois idiomas. No caso de Marcondes Machado, o conhecimento do italiano foi um dos atributos emprestados a Bananére.
Juó Bananére foi um crítico ferino da política brasileira do início do século passado. Seu alvo preferencial, o presidente da República entre 1910 e 1914, marechal Hermes da Fonseca (que tratava por "Maresciallo", "Hermese" ou "Dudú"), a quem não poupava também à noiva, a caricaturista Nair de Teffé (a "Nairia"). Ironizava ainda a eminência parda do governo, o político gaúcho Pinheiro Machado (o "Pignêro"). Essas três personagens aparecem em seu poema "O Dudú", que no trecho final os denuncia como responsáveis pelo desvio de dinheiro público:

"O Maresciallo co a Nairia i co Pignêro Azuláro cos dignêro Gá du Banco da Naçô. I un restigno che scapô distu pissoalo O ermó du Maresciallo Passô a mó, abafô! I o Brasile goitado! Ficô pilado, pilado!!...”.

Outra faceta notável da poesia de Bananére é representada pelas versões populares de fábulas de La Fontaine, bem como pelas paródias de escritores consagrados, como Gonçalves Dias, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Luís de Camões, Edgar Allan Poe e Olavo Bilac. Este último, era das únicas personalidades brasileiras do início do século 20 "sobre as quais pouca gente, mesmo os humoristas, se arriscaria, em sã consciência, a fazer críticas ou piadas, por desfrutarem de um sólido respeito popular". Pois o famoso soneto "Via Láctea XIII", do "príncipe dos poetas" ("Ora, direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso..."), inspirou a Bananére o divertido "Uvi strella”:

“Che scuitá strella, né meia strella!”.
Vucê stá maluco! e io ti diró intanto,
Chi p ra iscuitalas moltas veiz livanto,
I vô dá una spiada na gianella.

I passo as notte acunversáno c oella,
Inguanto che as otra lá d un canto
Stó mi spiano. I o sol come un briglianto
Naçe. Oglio p ru çéu: - Cadê strella!?

Direis intó: - Ó migno inlustre amigo!
O chi é chi as strellas ti dizia
Quano illas viéro acunversá contigo?

E io te diró: - Studi p ra intendela,
Pois só chi giá studô Astrolomia,
É capaiz di intendê istas strella.”

Resgatar os textos do autor, colocando-os ao alcance das novas gerações de leitores, já seria um mérito. Mas Juó Bananére não foi apenas um autor "exótico" ou "folclórico", mas um dos escritores mais importantes do pré-modernismo brasileiro.

***

Alexandre Marcondes Machado, faleceu em 1933 em São Paulo; dessa data em diante, nada, ou quase nada foi publicado ou produzido em escrita macarrônica ítalo-paulista! Isso foi o principal motivo para que eu, Guido Carlos Piva, tenha me transformado na figura quimérica de Pimpinello Rizoni e escrevesse em finais do ano de 1999, o livro ”Orra meu! O canto da Mooca”, num macarrônico mais moderno e mais aportuguesado que o arcaico macarrônico de Juó Bananére, com um único intuito: ”resgatar, para os dias de hoje, todos os singulares e ternos sentimentos que, natural e instintivamente, nossos incríveis e adoráveis ascendentes imigrantes, tão bem souberam incutir à índole de todos nós”.


GUIDO CARLOS PIVA
Mais conhecido como
PIMPINELLO RIZONI
O poeta da Mooca!

http://planeta.terra.com.br/arte/orrameu

PS: Este artigo foi escrito baseado em pesquisas feitas, pelo próprio autor, em diversos sites da Internet, cujos textos encontrados estão totalmente liberados para estudos e pesquisas em pró ao desenvolvimento da cultura de nosso país!
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