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Artigos-->O gol do tri -- 16/04/2006 - 22:05 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




O gol do tri

Athos Ronaldo Miralha da Cunha



Em 1970 eu era um guri com dez anos de idade, inquieto e cheio de fantasias. Morava em uma pacata cidadezinha no interior do Rio Grande do Sul. Torcia pelo Internacional de Claudiomiro e Bibiano Pontes. Era fissurado pelas espaçonaves Apollo, brincava de mocinho e bandido com a piazada da rua e jogava futebol em um campinho atrás de um posto de gasolina. Nossa turma de moleques era grande, mas alguns poucos nomes ainda guardo na memória: Laurinho, Regis, Rogério, Angelo e o Toco.



Por vezes, nos entardeceres alaranjados, ficávamos horas observando a calota da Via Láctea procurando por uns pontinhos que se deslocavam no céu. Eram os satélites. Nesses momentos era impossível não lembrar dos nomes de Yuri Gagari e Neil Armstrong, dois corajosos astronautas.



Naqueles longínquos tempos não tinha noção de que o país vivia em uma ditadura, mas convivia com os carros do Exército e militares constantemente na rua.

No Baita Chão escondido nas Missões do Rio Grande eram poucas as famílias que possuíam televisão. Alguns dias antes da Copa um vizinho adquiriu aquela estranha novidade. Iríamos assistir a Copa do Mundo de 70 ao vivo. Nos jogos do Brasil a casa de Seu Lauro era o palco de uma Copa em preto e branco.



Os jogos da seleção Canarinho eram acompanhados com os nervos exaltados. O único torcedor tranqüilo era o velho. Por alguma razão meu pai sabia que seríamos campeões. Dizia que a Inglaterra era a seleção mais difícil. E o Brasil já havia passado por ela.



No último jogo contra a Itália estávamos apreensivos. Para mim, foi o mais marcante e comovente jogo de uma Copa do Mundo. Até o gol do capitão Carlos Alberto eu não tinha a mesma convicção do velho. Quando o placar fechou em quatro a um, aí sim, tive certeza. Éramos tricampeões do mundo. A taça do mundo era nossa. Éramos noventa milhões em ação.

Naquele dia minha cidade natal foi uma festa só. Muito alvoroço, algazarra e alegria pelas ruas. Os carros buzinaram a noite toda e foguetes pipocaram nos quatro cantos de Santiago.



Poucos meses após aquele memorável junho de 70, nos mudamos. Nunca mais reencontrei os amigos de infância. Nunca mais as espaçonaves Apollo cruzaram a abóbada celeste. O período obscuro ficou restrito aos livros de história. E não sei se o campinho ainda existe. Mas o último gol da decisão ficou marcado em minha mente e aquele jogo como o mais emocionante.



Em vão, por alguns anos, ainda sonhei em ser um lateral-direito nos moldes do capitão do tri. Meu pai nunca teceu algum comentário sobre os meus fundamentos no futebol, mas ele tinha algumas certezas e me incentivava para que estudasse.

O velho estava certo, eu jamais marcaria gols como o do Carlos Alberto.







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