Saimos do Brasil um pouco antes do início da copa do mundo de 78. Nosso destino era Lyon na França, onde fecharíamos alguns negócios importantes relacionados aos livros. A cidade contava, naquele tempo, com aproximadamente 200.000 habitantes.
No aeroporto, em São Paulo, o embarque fora calmo, não sobrevindo nada que pudesse sobressaltar aos olhos. A decolagem ocorreu perfeita e no horário.
Depois das longas horas de um vôo trepidante, com altos e baixos, espremidos naqueles assentos desconfortáveis, pousamos em Paris. De lá tomamos outro vôo que nos levou até Lyon. Nossos amigos Charles e Brigitte esperavam-nos no aeroporto local e mal tocamos o solo, fomos homenageados com aquela efusiva manifestação francesa de carinho.
O clima temperado e a situação inusitada nos causavam a impressão de ser o ar mais frio do que realmente demonstravam os termômetros.
Contaram logo as fofocas: diziam que o prefeito envolvera-se com uma adolescente muito bonita, que acabara de ganhar um concurso de beleza, e que ele em uma aposta, desafiando seus adversários, insistira em passar uma noite com ela, desvirginando-a.
O prefeito então, prometendo um emprego para a menina, levou-a para um sitiozinho nos arredores da cidade, onde tentou sem sucesso manter com ela relações sexuais. Para o azar do alcaide, naquele tempo não existia o Viagra.
Lamentável...
O motorista do prefeito conhecido como Jean Milk, assustado com a provável repercussão dos fatos, circulava nervoso em torno do bangalô, assistindo pela janela, o seu patrão, que num verdadeiro surto psicótico, sentado no chão e semidesnudo, procurava satisfazer-se pela quiromania.
Os fatos chegaram ao conhecimento dos jornalistas da cidade que não titubearam e publicaram logo a história. O caso ficou notoriamente conhecido como "Le mer de merde".
Não tivemos oportunidade para saber o desfecho total do caso, visto que nossos negócios foram concluídos rapidamente. Mas a garota bonita conseguira, a despeito da inveja das suas concorrentes, o emprego na prefeitura, não de Lyon, mas na de Lascaux, cidade vizinha, onde o partido que as governava era o mesmo.
Voltamos ao Brasil e depois de algum tempo pudemos acompanhar as finais do campeonato mundial.
Infelizmente, naquele ano, continuávamos a ser os mesmos tricampeões mundiais de futebol.
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