Nunca nos veremos, querido amigo, mas a gravura que tanto me lembra você, está aqui, cravada em meu quarto. Talvez eu tenha escolhido a estupidez, deixando o caminho ao pó, mas não vejo outra solução.
Fomos família, sem ao menos nos olharmos. Fomos móveis onde deixamos sempre o lugar guardado para as inúmeras cartas. Nos sentimos fieis aos nossos ideais, porém erramos ao achar que as diferenças eram poucas.
Ouvimos as mesmas musicas, lemos os mesmos livros mas, infelizmente, não temos a mesma vida ou essa não nos deu a oportunidade.
Nunca nos veremos, no entanto ainda penso porque escolhemos assim. Por que não teremos as refeições insossas, o murmurar dos segredos? Ou até por que não podemos chegar em casa, largar o sapato pela sala e esticar os pés? Por que não aquele sorriso aberto ou o trincar de dentes?
Terei alguém para comentar aqueles olhos distantes que encontrei na rua? O milagre do dia encerrado? A antecipação do trabalho? E a chuva dos dias frios?
Não nos veremos, meu amigo. Eu aqui, você aí. Os dois agüentando uma vida sem enxergar.
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