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Artigos-->A PASSAGEM DO MÉDICO JULIO PATERNOSTRO POR PARANÃ. -- 21/05/2006 - 20:05 (Mário Ribeiro Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A PASSAGEM DO

MÉDICO JÚLIO PATERNOSTRO

POR PARANÃ.





Mário Ribeiro Martins*







Em seu livro VIAGEM AO TOCANTINS, Júlio Paternostro descreve a sua passagem por Paranã, antigo norte de Goiás, hoje Tocantins. A atual cidade de Paranã é a antiga Palma que se localiza às margens do Rio do mesmo nome.



Ele mesmo disse: “No domingo, dia 25 de agosto de 1935, alcançamos o rio da Palma, no local onde se acha a fazenda de criação do Coronel Antonio Luis. Mangueiras frondosas abrigaram-nos do sol que nos vinha castigando toda a manhã.



Atravessamos o Palma em três fases: primeiro o vaqueiro da fazenda levou na canoa as bruacas com o material, depois o meu camarada, depois a mim.



A povoação de Palma ficava a algumas centenas de metros da margem esquerda: íamos a pé, carregando a bagagem, quando surgiu um rapaz dizendo que esperássemos na beira do rio o “ajuntamento” que vinha ao nosso encontro.



Os moradores de Palma já tinham sido avisados de nossa presença, e eu não tinha visto ninguém sair do local, onde nos encontrávamos. A única pessoa com que tivemos contato foi o vaqueiro, que não arredou pé dali. No sertão, as noticias esparramam-se como se existisse telégrafo nas árvores.



Sem uma sombra perto, tivemos que agüentar a soalheira que se tornara mais intensa devido ao reflexo da água do Palma que corria junto de nós. Esgotara-se a primeira hora de espera, quando apontaram no caminho que descia para o barranco, os homens que compunham o “ajuntamento”.



O prefeito, o rábula, o escrivão, fazendeiros, moços e velhos, envolveram-se cordialmente e cheio de curiosidades. Com grande simplicidade referiram-se à minha juventude(38 anos) e aos meus trajes. A minha indumentária nessa ocasião consistia num chapéu de carnaúba, camisa-esporte, calça de brim cáqui e sapatos de borracha. Os meus recepcionadores estavam enfarpelados, alguns na casemira, outros no brim, mas todos com gravata, coisa que raramente vi na minha viagem. Soube depois que me tinham dado tempo, na beira do rio, para eu me vestir mais a rigor.



O vestuário de gala daqueles gentis palmenses mostrava a distancia no tempo e no espaço do litoral brasileiro. As calças apertadas nas pernas, os sapatos de bico extremamente pontudos, os paletós com debrum preto na gola refletiam a antiga moda masculina do litoral. Um moço perguntou se os médicos do Rio de Janeiro andavam com roupas iguais à minha.



No meio daquela boa gente entrei na vila como hóspede ilustre e raro. Das portas e janelas a população me espreitava. Conduziram-me para uma casa grande, reservada para minha hospedagem.



Na sala de visitas, na mesa onde se estendia a toalha alvíssima de finas rendas, descançavam o bule de café coberto por uma capa de pano estofado, bordado com dois coraçõeszinhos atravessados por uma flecha em retroz vermelho, biscoites de polvilho e siquilhos.



A comitiva sentou-se nos bancos e nas cadeiras de assento de couro, formando um circulo em torno de minha pessoa. Fui atacado pelas mais variadas perguntas, desde a minha origem denunciada pela cor dos cabelos e tez alva até a vida dos habitantes do Rio de Janeiro. Como se tomavam banhos de mar, se no bondinho do Pão de Açúcar qualquer pessoa poderia viajar, etc.



Sobre a minha missão, que era apenas colher sangue para pesquisa estritamente cientifica, imaginavam as conseqüências mais auspiciosas para a saúde dos habitantes do município. Supunham que após a minha visita seria instalado um Posto de profilaxia da malária, que um medico aparelhado com medicamentos seria destacado para aquela área, etc.



Um fazendeiro, com grande simplicidade, pediu-me que, ao chegar ao Rio de Janeiro, não me esquecesse de dizer ao Presidente da Republica(Getulio Vargas) que havia necessidade também de um veterinário na vila de Palma. A única coisa que lhes pude dar em troca foi estabelecer a maior camaradagem e atender a todas as perguntas que me fizeram sobre os mais variados assuntos.



À tardinha convidaram-me com orgulho para ir ver o primeiro campo de aviação das margens do Tocantins que estava sendo preparado pelos palmenses. Todos trabalhavam nessa realização, inclusive o Prefeito aleijado dum braço. Todos me interrogavam sobre o modo de aterrar, de decolar, pois não tinham instrutor. Fui obrigado a improvisar-me em técnico aeroviário. No sertão, o “doutor formado” representa o individuo que sabe tudo. A trena que usavam para as medidas do campo era um pedaço de pau. Emprestei-lhes um podômetro, que lhes causou surpresa.



Ninguém do grupo tinha visto até então um avião, a não se por fotografia. Ficaram de levantar um mastro com o catavento de sacola, a cujo respeito os instrui. O esforço dos palmenses para possuírem o seu campo de aviação, baseava-se numa mensagem do Major Lysias Rodrigues. No plano de Lysias, a linha do Correio Aéreo Militar, deveria incluir a povoação de Palma. Regressando do campo de aviação, passamos pelo Cemitério.



A povoação de Palma, na altitude de 303 m, está na junção dos rios da Palma e Paraná. Dista 60 km da foz Paranã-Maranhão rios que, depois de se juntarem, seguem com o nome de Tocantins. Palma fica a 1.218 km da confluência Araguaia-Tocantins. Há um século, Palma era o centro mais populoso e movimentado do Alto Tocantins. Dela partiam grandes batelões de vinte toneladas, com vinte remadores. Cessando os embarques e desembarques de seu porto fluvial, a povoação regrediu.



A cidade de Palma, que há cem anos possuía 255 casas, atualmente(1935), é um arraial de 120 habitações velhas ou em ruínas. Uma igreja que estava sendo construída há setenta anos, ainda não se concluiu. A vida parou. Há inimizades, dissenções entre grupos. O “partido” de um grupo não tolera o “partido” do outro.



29 de agosto de 1935- De Palma, prosseguimos viagem para Arraias. Não há estradas. Existem trilhas estreitas. Entre Palma e Arraias, na direção suleste, as trilhas que cavalgamos tem aproximadamente 200 km. Gastamos quatro dias. É um deserto. Contei cinco palhoças.”



Como se pode observar, Júlio Paternostro permaneceu 4(quatro) dias em Palma, hoje Paranã. Sua viagem foi feita em 1935, mas o seu livro VIAGEM AO TOCANTINS, com 350 páginas, só foi publicado em 1945, pela Companhia Editora Nacional, de São Paulo. O livro teve o prefácio de Roquete Pinto e foi dedicado a Julia, além de Carlos Paternostro que fez revisões, Atílio Correia Lima(Construtor de Goiânia) que fez os desenhos e Joaquim Aires da Silva(Sindô) que forneceu fotografias.



Há várias observações que podem ser feitas. A estrada que liga Natividade a Paranã é, praticamente, a mesma. Julio Paternostro passou em 1935. 71 anos depois, em maio de 2006, os 90 km de chão são péssimos. Na época da chuva, muitos atoleiros. Na época da seca, muita poeira. E observe-se que Paranã, a antiga Palma, é uma cidade histórica. Não merece o tratamento que tem tido, em termos de estrada. Mas, que o diga o Tribunal de Contas do Estado, porque verbas para o asfaltamento da estrada não tem faltado, ao longo do tempo. Por ela passou em 1876, como seu Juiz de Direito, Virgilio Martins de Melo Franco que escreveu o texto VIAGEM À COMARCA DE PALMA. Nela estão os restos mortais de Joaquim Teotônio Segurado, alem de tantos outros eventos importantes que são mencionados no livro PARANATINGA(sobre Paranã), de Cleusa Souza Benevides Bezerra. (Relembre-se aqui que Paranatinga também não fala em Júlio Paternostro).



Outra observação que há de ser feita, diz respeito ao próprio Júlio Paternostro. Médico Sanitarista, funcionário do serviço de febre amarela, do Ministério da Saúde, do Governo Federal, num convenio com a divisão internacional de Saúde Publica, da Fundação Rockefeller. Percorreu 17 Estados Brasileiros, estudando o mosquito da febre amarela. Com livro publicado pela Companhia Editora Nacional de São Paulo, em 1945, no entanto, SUA BIOGRAFIA não é encontrada em nenhuma das enciclopédias nacionais.



Não é mencionado no DICIONÁRIO BIOBIBLIOGRÁFICO BRASILEIRO DE ESCRITORES MÉDICOS(1972), de Orsini Carneiro Giffoni. Não é citado em ITALIANOS NO BRASIL(2003), de Franco Cenni. Não é estudado na ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA, de Afrânio Coutinho e J. Galante, edição do MEC, 1990, com revisão de Graça Coutinho e Rita Moutinho, em 2001 ou DICIONÁRIO HISTÓRICO-BIOGRÁFICO BRASILEIRO(2001), da Fundação Getúlio Vargas e nem é referido, em nenhuma das enciclopédias nacionais, Delta, Barsa, Larousse, Mirador, Abril, Koogan/Houaiss, Larousse Cultural, etc.



Como se não bastasse, a importância de Julio Paternostro está também no fato de que ele foi um dos fundadores, ao lado de José Affonso Netto, Danilo Perestrello, Elso Arruda, Oswaldo Domingues de Moraes e Walderedo Ismael de Oliveira, do CENTRO DE ESTUDOS JULIANO MOREIRA, no Rio de Janeiro, em 1944, todos psiquiatras vinculados ao Serviço Nacional de Doenças Mentais. Algo sobre ele, em termos de biografia, é possível achar no DICIONARIO BIOBIBLIOGRAFICO REGIONAL DO BRASIL, via internet, no site www.mariomartins.com.br









*Mário Ribeiro Martins

é Procurador de Justiça e Escritor.

(mariormartins@hotmail.com)

Home Page: www.genetic.com.br/~mario

Fone: (063)99779311 (063) 3215 44 96

Caixa Postal, 90, Palmas, Tocantins, 77001-970.

www.mariomartins.com.br



































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