Chega de ouvir calado o falso clamor em defesa do que é nosso.
De todos os lados surgem “defensores” emanando “ordens”.
Sou garantia de dívidas tão discutidas...
Posso deixar de fazer parte de um País e sê-lo de outro.
Pertenço ao terceiro mundo e sou cobiçado por outros do primeiro...
Ditam-nos normas como se “fôssemos” pobres.
Os vejo de outra forma. São eles os “Ricos-Pobres”.
Possuem divisas e escravizam os “Fortes. Invertamos as ordens.
Quem é o PODEROSO?
__ PODEROSO é o Gigante que possui riquezas incalculáveis, que geram cobiças a tantos; que salvaguarda poderios perdidos pela exploração.
SOMOS O QUE SOMOS.
A invalidez, decrepitude, interdição não me atinge.
Meu povo soube preservar o que tanta “preocupação” causa a eles.
O caboclo retira do solo o sustento; do rio o alimento. Não derruba seringueiras para lhe tirar o látex. De poronga na cabeça sua labuta inicia-se pela madrugada.
VIVE MISERAVELMENTE.
Ninguém se preocupa com ele. O alarde mundial é em defesa do “PLANETA AZUL”. Não do HOMEM. Inventaram o termo ECOLOGIA e esqueceram que o ecossistema se reveza por si. A natureza é sábia.
E gritam:
Salve o Mico-Leão, Baleias, Jacarés, Onças...
Ninguém grita: -- SALVEM O HOMEM! O CABOCLO NATIVO...
É raça em extinção e o único ser pensante na face da terra.
__ SALVEM O HOMEM! Antes que acabem e o planeta seja manipulado pelos robôs, sua real criação. Ao meu filho, caboclos puros, sofridos, não fazem clamor.
Um Governante filho meu bradou ao mundo meu eco:
“__ SALVEM O NOSSO CABOCLO! NÃO LHES TIREM A VIDA QUANDO O PROIBEM PESCAR, CAÇAR, RETIRAR DA SELVA SEU SUSTENTO.
Nós Amazônidas somos os reais conhecedores de nossas necessidades. Só temos de “real esta selva que a muito custo preservamos...”
O mundo chorou quando três baleias tentavam sobreviver no gelo. Muitas lágrimas, revoltas sobrevieram quando um pássaro na Guerra do Golfo não pôde voar face ao óleo negro derramado...
E os homens bombardeavam cidades, matavam crianças, mutilavam pessoas...
Meu filho é batalhador de sol a sol queimado pela natureza. Suas armas rústicas são a enxada, terçado, machado, rede de pesca, poronga...
Sua maior arma é a CORAGEM.
Isolado da civilização, por testemunha só lhe resta o céu, a floresta, o grande rio. Calado nem reclama.
Onde estão os ECOLOGISTAS DE “IPANEMA”, “DO PLANALTO”, “DOS PAÍSES” do Primeiro Mundo?...
Estes não passam por lá, conhecem a região por folhetins, revistas... A realidade é dura, mas o GIGANTE não morreu.
Vivo emana seu grito, que o eco seja ouvido à distância:
A Amazônia precisa ser explorada por seus filhos, sem ingerência de terceiros.
Meu filho o caboclo precisa ser salvo. Não podemos aceitar calados, omissos, pusilânimes as interferências aqui. Somos descendentes de guerreiros fortes e ousados quando ofendidos. Temos o direito de progredir. Nos impedir seria condenação, intervenção em nossa soberania.
Somos um País forte e poderoso.
O Gigante não morreu. Nossos destinos estão e serão discutidos distante daqui, por pessoas, países.
Poucos foram os filhos meus convidados.
Qual o objetivo da ECO/92?
__ POR QUE TÃO DISTANTE QUANDO O ASSUNTO É AMAZÔNIA???
QUAL A VERDADE EM TUDO ISTO?...
GUERREIROS! MEUS FILHOS!
É hora de empunharmos nossas lanças, fazermos protestos, gritarmos coesos aos brasileiros de outras plagas, ao mundo, que não nos condenem à miséria. Chega de violência, basta a prisão perpétua a que relegaram o caboclo desta região.
Temos o direito de dirigirmos nossos destinos.
QUE NOS RESPEITEM COMO UMA GRANDE
POTÊNCIA QUE SOMOS PELAS RIQUEZAS
QUE TEMOS!
Manaus, 1992
Publicada no livro Mulher! Conquista fácil! Poesias e crônicas. Editado pela UFAM/1996.
Como Cabocla Amazonense, venho emitindo um grito no silêncio, ninguém escuta, o grito heróico de uma Região sem Líderes. AJURICABA morreu. Pobres poetas que gritam e gritam e gritam. Um dia o Brasil será obrigado a empunhar armas em defesa do Brasil.
A AMAZÔNIA é BRASIL.
Ana Zélia