Vós que hoje estais enamorados, sabei disso:
o amor passa de furioso e implacável a tímido e receoso num piscar d’olhos. O sorriso feliz e abundante às vezes se torna em soluços frutos do rancor. A sensação de que o paraíso é pequeno para dois que se amam chega perto de ser a maior das ilusões. O olhar repleto de brilho e calor se reveste de uma névoa sombria, e os gestos carinhosos dão lugar à extrema impaciência.
A maior das virtudes se anula pelo menor dos defeitos. Tudo o que era significativo não mais é. Os momentos em que dois amantes se fartavam de felicidade cedem ao enjôo da voz, do cheiro do corpo, de tudo do outro. O que antes em doses ínfimas saciava o coração nem em doses abundantes o satisfaz. E o que era objeto do seu extremo desejo a mera lembrança aborrece.
Contudo, sabei também que, não fosse o coração humano fonte inesgotável de contradições, jamais o amor suplantaria tais inimigos, pois ao tempo em que o amor se extingue em um coração em outro novamente se cria ou renasce no chão em que morreu, e assim caminha a humanidade sustentada pela esperança de um amor eterno...