O Dilema do sertanejo
Flávio Lucena
Esta terra morta,
De rugas danadas
A palma como último limiar,
O gado em osso ressequido,
A alma em destroços rudimentares,
A pele engilhada, suada,
Fediada, sem banho,
A vida sem sonho,
A cina do sertão!
O cachorro não late,
O menino não chora,
A mulher já não ama,
A água foi embora
É este cotidiano sombrio,
De sol e morte,
Crepúsculo endiabrados,
Acorda-se vivo,
Dome-se morto,
Sorriso sem dente,
Meu prato é o cachorro,
As arribassam foram embora,
E agora??
Neste solo danoso,
Sem roupa meu couro lamenta
Lamenta
Sem esperança esta vida não aguenta
A religião já não sei,
De promessas ao padim,
Vi meu gado se extingüir,
Vi a terra padecer,
O menino morrer,
A mulher estremecer,
O meu bucho contorcer
Dos políticos já não sei,
Alimentam-se desta desgraça,
Os recursos que de lá vem,
Aqui não vem
Não vem não,
Nenhum vintém,
Este é o dilema,
A angustia do sertanejo lascado,
Surrado de tanto esperar,
Por terra melhor,
Onde a esperança não vire pó.
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