Vias diversas
Flávio Lucena
Um lá,
Outra cá,
Um come o pão do diabo,
Fedor de excrementos,
Horror de salas úmidas,
De grandes em ferrugens,
Outra vive cá...
entre livros, poéticos, Machado, Pessoa, Neruda e outros mais...
sob o cheiro de flores, rosas, perfumes...
com os pássaros, livres, voando
Um sonha com vôos longos, um indulto
Outra sonha com sentido, emoções,
Salvação para o tédio...
Alívio para a solidão...
- O que será destes dois caminhos?
- O que acontecerá se esses caminhos se fundirem?
Em um caminho...
unidos por vias opostas...
avenidas vinda de ruas diversas...
corpos que ardem,
mentes que buscam,
se buscam,
encontram-se...
em esparmos
ofegante respiração,
salivas que misturam-se
esperma que libera-se
coito febril,
desejo ardente
alcova bendita
gozo de sentimentos...
diversos...
controversos...
confusos...
Um sofre desgraçado sob o peso do passado
Outra sofre imaculada, corrompida sob o incesto desgraçado
Ambos celebram encontros despedaçados...
de alegrias rachadas,
ruelas cruzadas,
beco sem saída
destinos incompatíveis,
corpos frios,
sem pulso,
neste leito de encontros vazios,
ocos de solidão diversas,
corpos estendidos pálidos
esquálidos,
sugados,
sofridos,
mortos de agonia,
sufocados por ser,
por viver,
esta náusea.
João Pessoa, fevereiro.2002
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