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Artigos-->O VOTO E O GOL -- 18/06/2006 - 14:15 (Wilson Coêlho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


“Desprezo os indiferentes,

também, porque me provocam

tédio as suas lamúrias

de eternos inocentes.”

António Gramsci





A afirmação de que votar significa abrir mão do próprio poder e que é idiotice, apregoada numa campanha de voto nuto que assola o país, implica dizer que não votar também não vai muito além de um ato idiota. Convém observar o que é que se entende por voto e por idiota.

Essa campanha soa como debilidade mental, face a superficialidade dos argumentos alegados pelos seus defensores, em sua maioria, acreditando no voto como cheque em branco assinado para governantes. Parece absurdo que alguém se julgue tão superior ao ponto de acreditar que não tem nada a ver com um processo histórico que necessita de participação e elaboração de modelos para a sobrevivência da humanidade. O voto não é um fim em si mesmo.

Tomando emprestado o clima de Copa do Mundo, ouso comparar o voto com o gol. Para chutar a bola ao gol faz-se necessário uma série de movimentos que o antecedem. Desde o momento em que a bola é colocada em jogo, até a oportunidade mesmo de se chutar para o gol, com a compreensão das posições dos companheiros de equipe, as do time adversário, passando pelos dribles, manuseio e dominio da bola. Antes, ainda existe algo primordial até mesmo para garantir lugar numa partida ou campeonato: treinos, decisão sobre jogadores que serão escalados, organização administrativa da agremiação, relação dos dirigentes para com os jogadores e destes com os torcedores, dos filiados aos não filiados.

Por outro, parece bastante prepotente a postura desse ausente dos processos de tentativa de pensar e elaborar projetos para a construção da sociedade que queremos ou a reconstrução daquela que supomos ter se extraviado de seu rumo. Não passa de exacerbado egocentrismo determinado cidadão alienado e omisso se colocar como modelo do mundo e abrir mão de sua capacidade de decidir. Aqui, o voto nulo e o cidadão nulo se confundem.

O pior mesmo é ouvir a defesa do voto nulo como liberdade. Ser livre é não ter compromisso com a vida, a não ser a própria? Essa idéia de liberdade é a do escravo, aquele que necessita que o obriguem a exercer seus direitos e deveres. A liberdade pode ser compreendida como a capacidade de decidir sem ser obrigado a tal.

Uma horda de sociólogos, historiadores e outros combustíveis da estatística, justificam a apatia dos eleitores resultado da decepção com os políticos, mas cada político eleito é representante legítimo da parcela que o elegeu. Por isso, os políticos corruptos, omissos, etc. É dizer que votar nulo é estar mais dentro do que se imagina, com a diferença: fazer de conta que não se tem nada a ver com isso.

A sociedade já esgotou o atual modelo de representação? Para superá-lo, faz-se necessário um movimento que apresente propostas. Votar nulo sem colocar nenhuma possibilidade parece a estratégia do cachorro que late alto para esconder que tem medo e não sabe morder.

E olha que não entendo nada de futebol!



Wilson Coêlho é bacharel em Filosofia e Mestre em Estudos Literários pela UFES

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