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cronicas-->Materialismo Diabético -- 27/01/2002 - 20:58 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Aqui só vendemos comida natural".
Era a frase que estava escrita na placa em frente ao restaurante. Um senhor de estatura mediana, corpulento, barba e cabelos longos pára diante do estabelecimento. Cruza os braços, descruza. Atravessa a rua para ter uma visão global do restaurante, volta novamente e pára no mesmo lugar de antes. Passa a mão na barba, finalmente, resolve e vai embora. Não caminha vinte metros e retorna decidido restaurante adentro.
- Bom dia, o que o senhor deseja?
- É aqui que servem comida natural?
- Sim.
- Eu vi na placa... (por que perguntei? Pensativamente indagou-se)...olha, eu preciso que a refeição seja sem sal, sem açúcar, com etc, sem etc... porque sou diabético.
O garçom, novato no ramo, não era dado a palavras um pouco mais complexas no seu cotidiano, não entendeu direito e lascou.
- É o primeiro! Normalmente, acredito eu, os fregueses são cristãos. Eu sou católico praticante, devoto de Nossa Senhora Medianeira.
Como todos nós dedicamos um dia à filosofia barata, aquele era o dia do garçom .
- Afinal, Cristãos e Diabéticos devem viver em paz, frequentar os mesmos restaurantes, pois estamos numa democracia e temos o direito de ... porque no frigir dos ovos...
- Dois fritos, uma porção de arroz, um bife mal passado, maionese e uma cerveja.
- Não temos.
- Saiu sem querer.
- Como eu ía dizendo... no frigir... do suco natural, tudo que é sólido se desmancha na cozinha e se transforma, não se perde e acaba no prato dos fregueses, que aí sim se transforma e se perde ...
- Deixa de conversa fiada.
- O que o senhor deseja mesmo?
- Nada não, tchau.
E se mandou porta à fora.
- Sujeitinho estranho este barbicha...
- Moço! Moço!
Um rapaz magro, cabelos volumosos, rosto fino, cavanhaque, óculos escuros com lentes redondas ( tinha um quê de anos 60) chama o garçom.
- Sim.
- O que faz esta mosca na minha sopa?
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