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Contos-->A BOIÚNA -- 18/04/2002 - 14:23 (Moura Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A BOIÚNA
Moura Lima



A tribo dos índios Tocantins, ou seja, “nariz de tucano”, em priscas eras mourejava às margens do grande rio, que passou mais tarde a se chamar Tocantins, na fala do explorador branco, os reinóis e franceses, em homenagem à brava taba tocantinense. E na noite escura do tempo, encontravam-se ao pé do fogo, que crepitava em labaredas farfalhantes, os bravos guerreiros do rio dos Tocantins, comemorando a farta pescaria.
Um menino de olhar penetrante e mágico, postado à beira do grande rio, um pouco recuado da fogueira dos jovens guerreiros, de repente começou a sua ladainha estridente e grave, de papagaio roendo coco de buriti, e, de acordo com a sua vontade, mudava o som onomatopaico, para um suspiro fino e prolongado de boto:
- Crá-crá-crá! Tchum!...
A tribo cessou a algazarra e fez-se silêncio profundo. E o menino continuou
- Crá-crá-crá-tchum!
E logo no meio da noite escura, apontou no meio do rio a cabeça reluzente de bronze da boiúna, com dois olhos de fogo, farolando as trevas. Era o êxito da linguagem do menino, comunicando-se com a boiúna, a guardiã do rio dos Tocantins.
A cobra – grande, lá de longe, deu uma rabanada violenta e o banzeiro subiu, barulhos de terras caídas se fizeram ouvir. Era por isso que o Tocantins, com o passar dos anos, ia-se espraiando na caixa, com a queda dos barrancos. A boiúna, a pequeno intervalo, deu outra rabanada na cacunda do rio, e serenou, retornando para as profundezas.
O menino mágico acrescentou:
- Agora o rio dorme.É perigoso acordar o rio...
E a tribo entendeu a advertência, e procurou o repouso. A natureza e o rio dormiam, com suas cachoeiras, com seus rápidos; era a hora morta da noite trevosa, onde as almas dos afogados são libertas para o céu.
E aquele menino, de pele escura, olhar de fogo, tinha o dom de comunicar com os bichos-do-mato e do fundo do rio. Quando a tribo precisava de pescado para alimentar, o menino comunicava com a boiúna, e ela, de imediato, tangia os peixes como uma boiada, para as enseadas, os razos e canais das vazantes. E a pesca tornava-se abundante.
A tribo feliz dos Tocantins havia época que ficava em polvorosa, com o sumiço do menino mágico, que mergulhava no perau escuro, e desaparecia por horas, nas profundezas. Há quem diga que ele estava brincando no reino encantado da boiúna.
Mas, com a chegada dos exploradores brancos, que subiam e desciam o rio, com os grandes batelões, a boiúna foi ficando irritada, e passou a dar tremendas rabanadas, que o banzeiro subia e afundava as embarcações, e os homens brancos sucumbiam.
E numa madrugada chuvosa, a boiúna, nervosa, chicoteava o rio, os barrancos desabavam, árvores caiam nas águas revoltas, e o menino mágico avisou à tribo:
- A boiúna vai embora, está se despedindo!...
E no outro dia, as águas do rio amanheceram fervendo, espumando, e subiam em banzeiros colossais, e a boiúna, com o menino mágico enganchado no cangote, desceu com tudo, e foi rasgando o leito, espraiando as águas, e lá se foi para sempre, de muda para o rio Amazonas.
A tribo dos Tocantins, com o tempo, também desapareceu, em razão da perseguição dos brancos exploradores. E hoje, os velhos pescadores ainda ouvem nas barrancas do rio Tocantins, na solidão das noites escuras, a voz de papagaio roendo coco de buriti, do menino encantado, chamando dolentemente a boiúna:
- Crá – crá – crá-tchum!...

(Extraído do livro Negro d’Água-Mistos e Lendas do Tocantins)
Venda livraria GEP- e-MAIL-gepdistribuidora@uol.com.br
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