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Contos-->2 Detetives - Estrelas da Morte -- 19/04/2002 - 08:11 (Gustavo Henrique) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
-Batráquios Cretinos, Munhoz! Faça isso direito! - exclamava Hércules, enquanto depositava um tabefe na testa do infeliz.
A secretária, misteriosamente, estava num profundo sono, e ele mandou Munhoz pegar a correspondência e colocar sobre a mesa para futura leitura, mas revoltou-se com o desleixo com que este efetuou a tarefa.
Era isso, Munhoz era um grande amigo, mas às vezes fazia o hábil pensador ter uma crise de nervos com sua falta de organização.
-Quer... quer que eu leia pra você? - perguntou Munhoz, choramingando, enquanto esfregava a parte atingida da testa.
-Seria ótimo! Quanto mais rápido melhor! - exclamou, com um brusco gesto da mão.
Mas a leitura não foi nada agradável. Cheia de pedidos de ajuda para animaizinhos perdidos, gatinhos em cima de árvores etc.. Mas a última delas parecia interessante a Hércules, pelo menos pela extrema atenção que ele dedicou à leitura da mesma.
A carta era assinada por Carlos Phanfarronis, e dizia o seguinte:

“Caro Detetive Hércules, creio estar necessitando de sua ajuda, bem como de sua discrição, pois preciso tratar de um assunto financeiro e ao mesmo tempo familiar, e não gostaria que a imprensa fosse envolvida. Suspeito estar sendo vítima de constantes roubos, e tenho medo de conversar a respeito, pois creio ter certeza de que é alguém de dentro (da minha casa, é claro). Ficaria grato se o senhor se encaminhasse para este endereço o mais rápido possível.
Atenciosamente, Sr. Carlos Phanfarronis.”

Hércules ficou com um ar pensativo, enquanto Munhoz fazia seus comentários estúpidos sobre a carta.
-Sim, sim... tenho a impressão de já ter ouvido falar nesse nome... - murmurou o detetive.
-Ãã... não terá sido na coluna social de hoje? - comentou seu parceiro, um pouco inseguro.
-Oh, sim! Enfim uma coisa útil saiu de seu cérebro, amigo! Pegue o jornal para mim.
Munhoz abriu um sorriso meio idiota, orgulhoso de si, e foi até a lixeira, de onde tirou um bolo de papéis sujos e amassados, que poderiam ser identificados como o jornal.
-Mas o que significa isso, Munhoz? Jogou o jornal no lixo? - espantou-se Hércules.
O pobre Munhoz paralisou, como uma criancinha ingênua que acaba de fazer besteira e ser pega pelo papai. Seu queixo começou a tremer, e seus olhos foram ficando inundados. Hércules levantou-se irritado, e tomou o jornal, com cara de nojo, tentando procurar a coluna social.
-Perfeitamente! Aqui há uma menção ao Sr. Carlos Phanfarronis como profundo apreciador do céu noturno... isto é uma pista muito importante! - comentou gravemente.
Munhoz, ainda agachado sobre a lixeira, encarando Hércules, ergueu inocentemente sua mão, demonstrando querer dizer algo.
-O que foi?
-É que... você não sabe nada sobre o caso. Como pode achar isso uma pista importante?
-Ah, Lombrigas Anêmicas! Um traço psicológico de alguém é mais importante que milhares de impressões digitais! Meu mestre sempre disse isso!
-Ah, claro... e então, quer dizer que vai até a casa dele?
-É claro que sim! Tenho um pressentimento sobre esse caso, Munhoz! - comentou - ou serão apenas gases? - acrescentou, pensativo.

Três horas após o almoço, Hércules e Munhoz subiram no ônibus rumo à casa do cliente. A viagem foi agradável, pois o tempo estava fresco, e o sol lindamente brilhante.
Sem demora chegaram lá. A casa dos Phanfarronis era de bom tamanho. Por fora parecia ter três quartos, e não puderam deixar de notar a belíssima varanda, e uma luneta bem encostada à grade da mesma.
-Veja! - exclamou Munhoz - Ele deve adorar mesmo as estrelas!
-Olhar para o alto é bom... mas o que está embaixo me interessa mais no momento.
Havia um tom estranho na voz de Hércules. Munhoz automaticamente seguiu seu olhar e deparou-se com uma larga mancha de sangue no chão da entrada. Aquilo parecia bem claro para Hércules: alguém caiu da varanda, ou foi jogado de lá. Para Munhoz, que estava a fazer caretas para raciocinar, aquilo era até o momento groselha.
Hércules foi logo atendido por uma empregada com ar eficiente, porém claramente entristecida. O detetive apresentou-se, e foi encaminhado até a sala de visitas, onde havia uma senhora de meia idade, uma bela jovem e um rapaz feio e corpulento. Todos estavam visivelmente abalados. A senhora encaminhou-se surpresa até o detetive.
-Oh... detetive Hércules! Não pude avisá-lo a tempo!
-Posso perguntar onde está Carlos Phanfarronis?
-Teve macarrão hoje?? - adiantou-se Munhoz, inconveniente.
A senhora pareceu estranhar a pergunta.
-Oh... bem, não... mas por quê?
-É alguém derrubou molho na sua calçada, eu juro! - respondeu o mentecapto.
Hércules não se conteve, e deu-lhe outro tapão, desta vez na nuca.
-Não seja burro, Munhoz!
A senhora resolveu cortar o clima chato.
-Permita apresentar-me, sr. Hércules. Sou a Maria Phanfarronis. - e apontando para a moça e o rapaz - Esta é Joana Phanfarronis, e seu marido Alberto Phanfarronis, irmão de Carlos.
-Senhor Carlos é seu marido, senhora?
-Oh, sim... ou devo dizer... era. - disse Maria, cabisbaixa.
-Bem! Quer dizer então que, como eu suspeitava, sr. Carlos faleceu?
Alberto adiantou-se:
-Sim, foi um trágico acidente! Ele escorregou da varanda enquanto observava as estrelas.
Os olhos de Hércules puseram-se observar aquele homem, e principalmente um hematoma bem visível em sua testa.
-Assim, senhoras e senhores, como detetive contratado por Carlos Phanfarronis para investigar alguns assuntos pessoais, peço-lhes permissão para observar o local do acidente.
Todos estranharam o pedido de Hércules, principalmente Alberto.
-Mas pra quê? A polícia e os médicos já resolveram tudo! Não há nada que...
Alberto é interrompido por um gesto sério do detetive.
-Há coisas que se encaixam aqui, sr. Alberto. Carlos Phanfarronis contratou-me por suspeitar estar sendo roubado, quando sou chamado ele morre, e ninguém aqui ignora minha vinda. E devo perguntar... onde arranjou este ferimento na testa?
O corpulento homem constrangeu-se com a pergunta.
-Foi um acidente doméstico! Mas então... o senhor não vai subir para o quarto que dá para a varanda?
Hércules foi levado por Maria Phanfarronis até uma escada que acabava em um corredor, e no fim dele via-se a porta de um quarto, aberta. O corredor tinha mais duas portas, que estavam fechadas.
Hércules e Munhoz entraram no quarto, e foram deixados a sós, a pedido do detetive. Ele deu uma olhada em volta, e disse pensativo:
-Carpetes Flutuantes! Não uma, não duas, mas três lixeiras, Munhoz!
-Hã?
-Eu vi três lixeiras pela casa no percurso da sala até aqui... ao que parece, Carlos apreciava a limpeza ao extremo, além das estrelas.
Passaram sem mais delongas à varanda. Hércules foi logo até a luneta.
-Não entendo muito de lunetas, amigo, mas o nível de ampliação desta não estará baixo demais para ver bem o céu? - disse, verificando atentamente o botão de regulagem.
-Ih, Hã-Hã! É mesmo! Eu tinha uma dessas, e não adiantava nada olhar desse jeito.
-Sim, Munhoz! Começo a perceber algo aqui! - exclamou, em voz baixa.
Ele logo intrigou-se com algo que viu em um canto da varanda. Foi até lá e segurou cuidadosamente com a mão uma pequenina lixeira de alumínio fino, caída perto de um grande vaso. Observou com seriedade um leve amasso na superfície dela.
-Algo não me cheira bem aqui...
-Vai ver é o lixo, Hã-Hã!
Hércules não deu atenção ao comentário.
-Vou até a sala comunicar a todos que estou oficialmente abrindo uma investigação sobre a morte de Carlos Phanfarronis.
-Mas por que, Hércules! Ele caiu da varanda, é simples!
-Bem... creio ter razões suficientes para provar que não foi mero acidente, mas sim um ASSASSINATO!

Hércules e Munhoz desceram até a sala de visitas, onde todos estavam reunidos, esperando: Maria Phanfarronis, Joana Phanfarronis, e seu marido Alberto Phanfarronis, irmão do falecido. Este último levantou-se com a chegada do detetive.
-Vim avisar que, devido a uma série de evidências, sinto-me obrigado a abrir uma investigação formal acerca da misteriosa morte do sr. Carlos.
Todos ficaram boquiabertos, principalmente Alberto e Joana.
-Mas... mas isso é um absurdo! Em que se baseia? - exclamou a moça.
Hércules impediu mais objeções com um rápido gesto de mão.
-Não necessito que ninguém me ensine ou conteste meus motivos. Então, pediria a Maria Phanfarronis para que providenciasse um local onde eu possa realizar algumas entrevistas com privacidade.
Ela foi muito compreensiva, e levou Hércules e Munhoz até uma pequena sala de jantar.
-Obrigado. Mas já que está aqui, por que não começamos pela senhora?


A ESPOSA DO MORTO

Maria concordou, e sentou-se à mesa, em frente ao detetive.
-Bem, sr. Hércules. Ainda não entendo o motivo disso, mas sei de sua fama, então acho não devo fazer objeções quanto às suas vontades.
-É muito amável de sua parte, senhora. Então, a que horas se deu a fatalidade?
-Bem, foi por volta das onze e dez da noite de ontem.
-Sim... e antes disso, o que faziam todos?
Ela pensou um instante, e respondeu.
-Alberto e eu conversávamos na sala, ouvindo música no rádio. Meu marido estava na varanda como todas as noites. E... Joana estava em seu quarto.
-Saberia me dizer o que estava fazendo Joana no quarto?
-Não sei dizer, sr. Hércules. Ela e... bem... ela e Alberto tiveram uma pequena discussão ontem, por volta das oito horas, e ela se dirigiu para lá, onde ficou até hoje de manhã.
-Compreendo... e então, poderia me relatar o que ocorreu quando Alberto e a senhora conversavam na sala na noite da tragédia?
-Naturalmente... sim... estávamos na sala, falando sobre trivialidades, e então ouvimos uma notícia no rádio.
-Uma liquidação?? - palpitou... (Ah! Nem precisa dizer!)
-Não, sr. Munhoz. - respondeu Maria, com paciência - Era uma notícia importante, pelo menos para meu marido Carlos. Era sobre uma chuva de meteoros que iria cair por volta das onze e quinze da noite de ontem. E meu marido sempre quis ver uma, eu diria até que sempre foi um de seus maiores sonhos. E então...
-Prossiga. - encorajou Hércules.
-E então eu pedi a Alberto que fosse correndo avisar meu irmão do fato, e ele foi, mais depressa do que eu esperava se é que me entendem... subiu as escadas como um furacão.
-A senhora estranha isso, não é? - perguntou o detetive, lentamente.
-Bem, não muito... Alberto tinha uma consideração muito grande pelo irmão, e também pelas manias dele... mas... o fato é que eles não vinham se entendendo ultimamente, principalmente quando o assunto era dinheiro.
-Ah, tudo se encaixa... - murmurou Hércules.
-Como disse, senhor?
-Nada... bem, prossiga, senhora. O que aconteceu depois que Alberto foi avisar seu marido?
-Oh, sim, ele subiu as escadas correndo e então eu ouvi alguns ruídos estranhos, como... como pancadas... ou barulho de metais... não sei identificar ao certo... e então... ouvi um grito de Carlos, e percebi que alguém havia caído da varanda. Eu corri depressa para meu quarto e me deparei com Alberto, olhando desesperado para baixo, na varanda. Na hora eu não quis acreditar no que havia acontecido... foi horrível!
Maria começou a soluçar. Hércules lhe estendeu um lenço educadamente.
-Obrigada.
-Não é nada. Vou poupá-la de mais aborrecimentos. Poderia pedir à Joana que venha até aqui sozinha?
-Oh, claro. Farei isso.


A CUNHADA DO MORTO

-Em que posso ser útil, sr. Hércules? - perguntou graciosamente Joana Phanfarronis, com uma amabilidade meio disfarçada.
Ela era mesmo muito bonita, mas tinha um certo ar de debilitada, que Munhoz com certeza não viu.
-Queremos o seu telefone! - adiantou-se Munhoz, babão.
Hércules ameaçou outro tabefe, mas a anta recuou.
-Em primeiro lugar, quero que seja sincera comigo, pois é extremamente difícil enganar os olhos atentos e o raciocínio de um hábil detetive.
Joana pareceu estranhar o pedido.
-Diga.
-Responda, a senhora é alcoólatra, não é? - perguntou ele, inclinando-se na direção da moça.
Joana ficou extremamente embaraçada, seu rosto se tornou vermelho, depois branco, depois azul, depois... ah! deixa pra lá...
-Bem! Isso é um assunto pessoal e de família, sr. Hércules! - respondeu, zangada.
-É exatamente um assunto de família que eu estou investigando aqui. E tomarei isso como um sim, juntando com a cor de seus olhos e suas maneiras.
Ela ficou ainda mais embaraçada. Hércules continuou.
-Teve uma pequena discussão com seu marido ontem, não foi? Posso deduzir que foi para seu quarto e bebeu além da conta?
A moça ficou calada, mas sua expressão parecia confirmar todas as deduções de Hércules, que mudou de tom de repente.
-Ouviu alguém correndo até o quarto de Carlos alguma vez?
-Não... eu... eu acho que dormi.
-Só acordou hoje de manhã, senhora?
-Sim.
Hércules ficou um ou dois minutos pensando. Enfim, perguntou:
-A senhora dormiu o tempo todo em sua cama?
-Ora, senhor, mas que importância isso tem? - retrucou, embaraçada.
-Posso lhe assegurar que é importante. Quando voltava do quarto de Carlos para a sala dei uma rápida olhada nos outros dois quartos que ficam na extensão do corredor, e a julgar pela posição de sua cama, coisas podem se encaixar.
-Hã-Hã... Joana... cama... encaixar... - pensava Munhoz, com a língua de fora.
-Realmente, eu não lhe compreendo! - exclamou a alcoólatra.
-Mas logo compreenderá!
Hércules pensou consigo mesmo mais alguns instantes.
-Uma última pergunta...
-Pois não. - disse ela, impaciente.
-Responda o mais rápido que puder... quando acordou, onde encontrou sua garrafa?
Joana fez menção de responder, mas interrompeu-se. Parecia não ter certeza, ou até mesmo não saber. Hércules não esperou pela resposta.
-Está bem! Já é o suficiente para mim. Faria a gentileza de chamar seu marido até aqui?
Joana encarou Hércules com uma mistura de espanto e admiração. E concordou com um gesto lento de cabeça.


O IRMÃO DO MORTO

-Já disse que não acho nada disso necessário - resmungou Alberto, logo que entrou.
-Sente-se, senhor. - convidou Hércules, calmamente.
Alberto sentou-se de frente para Hércules, encarando-o seriamente.
-Poderia relatar-me o que ocorreu ontem à noite, pouco antes do... acidente?
O homem bufou, impaciente.
-Está bem... eu e Maria estávamos na sala ouvindo rádio, então ouvimos uma notícia de interesse de meu irmão, e eu corri para avisá-lo. Mas quando cheguei no fim do corredor, vi meu irmão caindo da varanda.
Hércules encarou-o pensativo por um instante. Enfim perguntou:
-O senhor viu Carlos caindo? E... o que acha que causou a queda?
-Com certeza algum problema de pressão! Ele tinha isso às vezes.
-Hã-Hã! Eu já desmaiei uma vez... foi na praia! Eu voltava de um mergulho, tive um piripaque e caí de cara bem nas nádegas de uma moça! Pelo menos no meu caso, foi gratificante! - narrou Munhoz, todo empolgado.
-Sim... sim... - e voltando-se para Alberto - Quer dizer que se o senhor pôde vê-lo do corredor, suponho que a porta do quarto estivesse aberta.
-Sim, estava.
-E a porta-janela que dá para a varanda... notei que é grande... também estava totalmente aberta?
-Eu diria que sim.
Hércules inclinou-se para ele.
-E a porta do quarto que corresponde ao senhor e sua esposa, tenho certeza de que também estava. - afirmou.
Alberto irritou-se um pouco.
-Não, não estava! Como pode ter certeza?
-Perguntei à sua esposa, sr. Alberto.
Hércules foi extremamente convincente, e acertou Alberto em cheio, deixando-o enrubescido.
-Na verdade, como disse, subi correndo e não reparei na porta.
-Compreendo... compreendo. Mas mudando um pouco de assunto, a sra. Maria mencionou alguns sons estranhos que ouviu instantes depois do senhor subir as escadas. Poderia me dizer o que eram?
Ele pareceu constrangido com a pergunta.
-Bem, logo que subi, como relatei, vi a queda de meu irmão, e chocado, ao correr em direção à varanda, acabei chutando acidentalmente uma lixeira que fica no fim do corredor, atrapalhei-me um pouco e acabei batendo a cabeça no batente da porta. Estava assustado, sr. Hércules!
-Perfeitamente, compreendo seu susto. Mais uma pergunta e senhor estará dispensado por enquanto.
-Pode falar.
-O senhor e seu irmão Carlos... eram sócios em algum negócio?
O homem arregalou ligeiramente os olhos.
-Bem... sim...
-É só por enquanto, sr. Alberto. - finalizou Hércules.


MAIS UMA TESTEMUNHA

Finalizados os inquéritos familiares, Hércules fez uma visita particular à vizinha de frente dos Phanfarronis, que habitava outro belo sobrado. O detetive não deixou nem que Munhoz fosse junto. Por que será...?
De volta, Hércules encontrou a mula chorona plantada na calçada dos Phanfarronis, esperando.
-Então, o que conseguiu?? - perguntou Munhoz.
-Consegui a penúltima peça do quebra-cabeças! - exclamou o ele, animadamente, acariciando as próprias mãos.
-Oba! Posso brincar com ele depois?? Deixa!!
-Oh... pobre mentecapto! - irritou-se Hércules, entrando novamente no sobrado dos Phanfarronis.


A ÚLTIMA PEÇA DO QUEBRA-CABEÇAS

Novamente na casa, Hércules pediu permissão para sair em busca da última peça (do quebra- cabeças... se você é um Munhoz da vida). Vasculhou primeiro as lixeiras, mas sem sucesso. Passou em seguida para o quarto de Alberto e Joana, e desanimou. Mas no quarto do falecido Carlos, soltou um "Arrá!", ao erguer-se de debaixo da cama com uma garrafa redonda de wiske na mão.


HÉRCULES SOLUÇA... ops! SOLUCIONA O CASO!!!

O detetive fez questão de reunir os três membros da familia para apresentar suas conclusões. Todos estavam claramente excitados. Hércules olhou, e começou:
-Bem, bem, bem... este caso é com certeza o mais estranho com que já me deparei, e explicarei por quê. Fui chamado por Carlos Phanfarronis com o objetivo de investigar alguns assuntos pessoais, mas, infelizmente, ao chegar aqui, encontro um estranho acidente. Acidente, como pelo menos nos diz firmemente o sr. Alberto Phanfarronis. Mas devido a alguns detalhes, resolvi abrir uma investigação. Desde o inicio acreditei que um crime havia acontecido, e se um crime aconteceu, só pode ter sido de uma maneira...
"Alberto está com Maria na sala, ouve uma notícia no rádio. Notícia esta sobre uma queda de meteoros que ocorrerá em poucos minutos. Ele então aproveita-se do pedido de Maria para que ele avise seu marido Carlos. Sai correndo fingindo estar feliz por poder ver realizado um sonho de seu irmão, mas seu verdadeiro intuito é aproveitar a euforia para camuflar seu crime. Afinal, é sócio dele em uma empresa, vinha roubando o irmão impiedosamente, e este andara suspeitando e inclusive escrevera uma carta a um certo detetive. Ele sabe exatamente onde se encontra Carlos, e sabe que ele estará distraído. Vai até o quarto de sua esposa, apodera-se de uma garrafa vazia e parte para cima de seu irmão e o derruba da varanda."
-Isso é uma calúnia!!! - exclamou Alberto, com fúria.
-Acalme-se, senhor. Deixe-me continuar.
"Embora esta seja uma explicação plausível, deixa de lado um monte de detalhes que são decisivos, como, por exemplo, a lixeira do corredor. Sem falar que, se esse fosse o intento dele, seria lógico chegar até Carlos silenciosamente por trás. E isso não se deve aceitar, pois deixa de lado os ruídos ouvidos por Maria e o detalhe da lixeira. Sem contar que os ruídos foram ouvidos quase tão logo Alberto terminou de subir as escadas."
-Eu não disse?? Não sou assassino!! - animou-se o acusado.
-Não se afobe. Apesar de tudo, posso garantir que o senhor ainda é o grande protagonista do fato. - retrucou Hércules.
E continuou:
-Apresento-lhes agora, senhoras e senhores, a verdade. A versão real do ocorrido, que inclui todos os detalhes importantes, e informações que colhi até agora:
"Joana tem uma discussão com seu marido no fim da tarde, e vai para seu quarto, nervosa e abalada. Mas vai até lá com um intuito bem definido: beber. E é um intuito tão forte e dominador que faz com que ela apenas entre, pegue uma garrafa e ponha-se a beber na cama. Vejam bem: isso a faz mecanicamente entrar e beber, deixando de lado até mesmo o ato de fechar a porta.
"Mais à noite, Maria e Alberto estão conversando na sala, com o rádio ligado. Ouvem uma notícia importante para Carlos. Maria pede a Alberto para que avise seu irmão o mais depressa possível. E ele, não por consideração ao irmão, mas sim à Maria, corre como um furacão escada acima. Chega rapidamente até o corredor, e aí vem o mais importante, e o mais estranho e quase inacreditável..."
Hércules fez uma pequena pausa dramática.
"Joana, em seu quarto, em sua cama, está quase dormindo, sob efeito da bebida, e então... a garrafa finalmente escorrega de suas mãos amolecidas, rola pelo chão, pois ela é cilíndrica, e chega ao corredor no exato momento em que Alberto passa correndo. Ele é pego de surpresa, e escorrega sem reação na garrafa. Cai no chão e bate a testa na lixeira com uma força imensa. A lixeira é derrubada e vai rolando rápida até a varanda, e é nela que Carlos pisa, e por causa dela que ele perde o equilíbrio e cai da varanda."
"Devem estar se perguntado como Carlos não ouviu barulho nenhum? Como tropeçou em uma lixeira supondo que estava parado olhando pela luneta. Arrá! É aí que entra meu enorme poder de dedução! Quando olhei a luneta pela primeira vez, notei que a regulagem do grau de ampliação estava baixo demais. Refleti, e deduzi que o único motivo que o levaria a isso era sua bela vizinha da frente. Isso mesmo! Carlos estava distraído o bastante observando a vizinha da frente, e como homem, eu sei o poder de distração que esse tipo de coisa é! Por causa disso Carlos não deu atenção a ruídos! Estava praticamente hipnotizado!
Maria Phanfarronis arregalou os olhos, e ficou vermelha. Hércules continuou.
"Bem, que ele estava distraído o bastante, já sabemos. Então, como terá pisado na lixeira e se desequilibrado, se estava parado? Para solucionar este pequeno problema, fui ter uma pequena conversa com a vizinha de vocês. E ela estava muito constrangida, pois na noite de ontem percebeu estar sendo observada por Carlos, e disse que ele viu que ela percebeu, então, envergonhado, deixou meio disfarçadamente a luneta de lado e deu meio passo para trás. E eu deduzi que este meio passo foi o que fez com que ele pisasse na pequena lixeira no momento exato e caisse da varanda, para a desgraça de todos. Foi o caso mais estranho e mais sincronizado acidentalmente que eu já vi.
"Mas ele não acaba aqui. Pergunto a vocês: por que Alberto teria mentido tanto? Quando perguntei sobre a porta de seu quarto, ele disse estar fechada, depois alegou não ter reparado. Quando perguntei sobre o que teria causado a queda, respondeu que era devido a uma tontura. E finalmente, quando lhe perguntei sobre uma possível sociedade com seu irmão, ficou extremamente desconcertado. Por que tantas evasivas, eu pergunto? Mas respondo também...
"Sr. Alberto estava com medo! Ele viu o acidente, estava lá! Teve medo de ser culpado e descoberto! Sim, descoberto! Estava realmente roubando seu irmão, e sabia que isso seria levado em conta como motivo, e aumentaria sua pena.
"Logo após o a queda de Carlos, Alberto se desesperou. Seu irmão gritou, logo alguém apareceria. Só pôde pegar a garrafa e livrar-se dela de algum jeito bem prático: jogar debaixo da cama, pôr em seu quarto, ou jogá-la em uma lixeira. E são estes os fatos, senhoras e senhores. Já solicitei com a policia uma investigação profunda sobre as finanças do sr. Alberto e da empresa. Tenho certeza de que encontrarão algo."
Todos estavam estupefatos com a astúcia de Hércules. Alberto pôs-se a soluçar como um bebê.
-É verdade! É tudo verdade! Eu não queria que ninguém soubesse! Maldita garrafa escorregadia! Maldita lixeira! Maldita testa dura!
-Veja, detetive Hércules! - espantou-se Joana, apontando para Munhoz caído no chão com cara de bobo.
-Oh, pobre Munhoz! Acho que desta vez eu exagerei! - reclamou Hércules.
Todos deram uma gostosa gargalhada. Menos Alberto Phanfarronis. Uma estrela cadente cortou o céu. Provavelmente o espírito de Carlos...
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