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Artigos-->Mídia babaca -- 05/07/2006 - 18:19 (Hamilton de Lima e Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


1970. A ditadura militar investe maciçamente na mídia para abafar os horrores dos cárceres oficiais e clandestinos, sufocando as poucas vozes que ousam manifestar-se após o famigerado Ato Institucional número 5. O Brasil é verde-amarelo, tem as feras do Saldanha e vence sob o comando de Mário Lobo Zagallo. Parreira está na comissão técnica.

1974. Um treinador que desconhece o trabalho dos adversários, Zagallo, ainda sob o regime militar, monta um time medíocre que é eliminado pelo carrossel holandês. O comportamento da mídia é discreto. Existem alguns focos de critica. Os panzer da Alemanha levam o título.

1978. Overdose de babaquice. Incentivados pela ditadura jornalistas de todo país louvam a seleção de Cláudio Coutinho, um capitão da reserva formado em educação física. O Brasil é campeão moral depois que a ditadura argentina consegue motivar a equipe peruana a sofrer uma goleada de 6x0 pelos hermanos. A mídia prometeu o craque Zico e Coutinho não explorou seu potencial, acreditando mais nas qualidades do quebrador de pernas Chicão, que defendia o São Paulo. Hermanos com a taça.

1982. A suprema palhaçada da mídia endeusou jogadores. A Nova Zelândia tombou perante o Brasil por 4x1. Redatores ufanistas disseram que foi o jogo de consagração de Zico, que tinha passagens muito melhores do que um gol de meia-bicicleta marcado contra os neófitos do futebol. Uma vitória sobre os argentinos estimulou o embuste. Paolo Rossi não sabia que a mídia brasileira tinha escolhido o Brasil para campeão e único representante do futebol arte. Deixou três bolas no gol brasileiro e lágrimas verde-amarelas no estádio Sarriá. De quebra levou a Copa.

1986. Sob a teimosia reincidente do mestre Telê Santana Zico, Sócrates e Júlio César perdem pênaltis diante de uma perigosa França, que estabeleceu um vínculo precioso com o Brasil, uma freguesia. A mídia encanta na véspera e chora depois. Diego Maradona bota a mão na bola e na taça.

1990. A mídia enraivecida pela era Collor critica a péssima seleção de Sebastião Lazaroni, que tinha como mérito maior um título carioca pelo Vasco da Gama. Maradona despede o Brasil. Alemanha campeã.

1994. A mídia cobra, ressentida pelas palhaçadas de 1986 e 1990. Parreira ganha o título escondendo os jogadores mais jovens como Ronaldo. O título vem com raiva nos pênaltis que consagram Tafarel, ex-goleiro do Internacional de Porto Alegre. Uns dizem que foi Romário que venceu a copa. Romário não defendeu pênaltis. Mídia otária.

1998. Brasil freqüenta o centro da cultura européia, joga abestalhado com uma França considerada média. A imprensa sustenta a versão ridícula da convulsão de Ronaldo Nazário. Quem entende um pouco de medicina sabe que convulsão bota qualquer um de cama durante uns três dias. A mídia não conseguiu descobrir os segredos. Uma mídia que consegue descobrir até assassinatos seculares não conseguiu encarar a população e parar com as bravatas. Montaram um circo. A França fornece cultura e estabelece novos laços de freguesia.

2002. A mídia não queria, mas Felipão chega à primeira copa na Ásia. Conquista o título e recebe mil homenagens superando críticos ferozes, especialmente os circenses da Rede Globo, sempre a mais ufanista de todas as empresas jornalísticas. O jornalismo da Globo na época das copas tende a estabelecer baixos padrões de inteligência no território nacional. A Bandeirantes normalmente é mais coerente, sem grandes arroubos. As outras redes acompanham o raciocínio global, com poucas exceções.

2006. Um técnico pra lá de teimoso e óbvio obriga a mídia a motivar a população. Ronaldo Gordo Nazário é carregado pelo narrador Galvão Bueno, um dos melhores ufanistas do Brasil, sempre disposto a exagerar pelo bem da pátria. Parreira irrita os investidores brasileiros, a torcida e a mídia. Jogadores com potencial são deixados de lado em detrimento de outros, fora de forma ou cansados pelo excesso de jogos em seus países de origem, casos de Cafu, Roberto Carlos, Ronaldo Gordo Nazário e Ronaldo Gaúcho. Confirmando o acordo de freguesia assinado em 1986, o escrete canarinho é eliminado novamente pelos franceses de Zidane, repetindo a majestosa atuação de 1998. Cést une merde diriam os argentinos do periódico Olé. A mídia ufanista não consegue achar explicações plausíveis. Têm anunciantes que adoram Parreira. A Globo tem que travar a língua novamente. Os ufanistas babacas não podem desmentir a imagem de um Roberto Carlos parado, tropeçando na língua. Malditos compromissos econômicos que vendem almas. A mídia esconde, ilude o povo como o Véu de Maia. Agora procuram transferir a culpa para os deuses do futebol. Anunciantes do peso da Nike, Brahma, Antártica, Coca-Cola e Pepsi não tem nada a ver com isso. A culpa deve ser da mídia babaca mesmo, que escreve o que interessa para quem interessa. Retratos de algumas copas. Retratos do Brasil.



*Professor universitário

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