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cronicas-->COINCIDÊNCIAS E PREVISÕES -- 29/01/2002 - 15:02 (Denis Cavalcante) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Coincidências e previsões
6/Jan/2002



"Esse ano não vai ser igual aquele que passou..." (Zé Keti)

O ano se foi assim tão de repente... ainda ontem observava a sisuda vizinha do prédio em frente as voltas com seus cavaletes, espátulas, telas, tintas e pincéis. Toda vez que estou aqui sinto uma vontade louca de acenar, cumprimentar, perguntar o que ela tanto pinta, gritar um aló! Mas, seu olhar de "poucos amigos" não me encoraja a fazer uma maior aproximação.

Hoje cedo, ao descer para comprar o pão, encontro-a cheia de sacolas e poucas mãos, às voltas com a chave da portaria. Ofereço-me para segurar as sacolas enquanto ela abre a pesada porta trabalhada em latão e ferro, me dá um seco "muito obrigado" e some pelo labiríntico e escuro corredor.

Na janela acima de minha mal-humorada vizinha pintora, um casal idoso se apraz em colocar água açucarada num artefato plástico imitando uma flor, para os passarinhos das redondezas. Agora entendo a concentração anormal de pássaros no pedaço e o colibri solitário que todo manhã teima em pousar num galho próximo a minha janela. Ficamos os dois imóveis, ele no galho, eu na rede, um olhando para o outro com medo que qualquer movimento brusco quebre o encantamento.

Tomo meu frugal café e saio literalmente sem lenço e sem documento. Na esquina da Figueiredo com Copa, existe uma velha camisaria, se não me falha memória Casa Nelson, daquelas do tempo do "onça". Conheço o local há pelo menos vinte anos e, sempre que venho ao Rio, uma mão misteriosa me leva até lá. Não me perguntem também por que (como hoje) sempre que por lá passo, o mesmo atencioso senhor de muita idade sempre está disponível. Estranha coincidência!

Peço-lhe o de costume: meias e lenços, e ele repete a ladainha de sempre: "Lenços e meias têm que ser comprados; ganhar de presente dá um azar danado!"

Escolho meia dúzia de lenços e outro tanto de meias. Na hora do pagamento, a engenhoca que passa o cartão dá um "bug" e o cartão tem que ser passado na maquineta manual. Aproveito para bater um papo com o idoso senhor. Fico sabendo sua idade: pasmem, 85 anos! Trabalha no mesmo local há 40 anos, herança do antigo dono que impós como cláusula o emprego "ad eternum" do eficiente funcionário. Assino o recibo e o simpático e longevo vendedor se despede me entregando o embrulho dizendo: "Foi um prazer servi-lo, senhor, volte sempre". Fiquei meio sem jeito vendo aquele simpático e ativo velhinho me chamando de senhor. Será que ano que vem ele irá me atender de novo?

No caminho de casa, uma cigana me persegue querendo a todo custo ler a minha mão. Pergunto apressando o passo, o preço, e ela resmunga: "10 reais". Acho caro e ela insistente baixa para 5. Onde já se viu? Depois de velho acreditar em previsões, quiromancias... Me puxa com a sutileza de um elefante pra dentro da Galeria Menescal, abre minha mão direita e diz em segundos aquilo que todo mundo quer ouvir a vida inteira: "Você terá um ano cheio de realizações, sorte no amor, no mês de maio cuide um pouco mais de sua saúde... me dá 1 real aí e não se fala mais nisso!"

A vendedora de flores da esquina me oferece de graça um sorriso de piano, e, por telepatia me faz comprar um florido vaso de lírios do campo. A pintora do prédio em frente antes ranzinza e temperamental me acena sorrindo; na memória ainda a imagem do bom velhinho, seu Oliveira. Da cigana esperta que leu minha mão na "marra" e a certeza do dito da antiga marchinha de carnaval: "Esse ano não vai ser igual aquele que passou..."

Denis Cavalcante
Livreiro

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