I
É uma luta, sinto.
É mais: uma guerra
de mundos distintos
como céu e terra.
Vontades opostas!
Indivíduo vário
carrega nas costas
o teu vil fadário.
Vem a educação!
Seja lá qual for:
torna a criação
igual ao criador.
E vem o Estado!
Respeito a Bandeira,
atento soldado
das nossas fileiras.
Respeito ao brasão
e muito civismo
fazendo a nação
com patriotismo.
E vem as políticas!
O partido ensina.
Eu sei como ficas:
com mais disciplina.
E vem a igreja!
Afinal, a eleita.
Os mistérios eleja,
os dogmas aceita.
Rejeitas as normas?
Foges ao padrão
e não te conformas
com a situação?
Louco!
Subversivo!
Herege!
Traidor!
Dissidente!
Excomungado!
Pecador!
Imoral!
Vagabundo!
Desertor!
Mas se tua razão
- A amada verdade -
está no padrão
da moralidade.
Então és aceito,
até respeitado!
Serás, com efeito,
um cara cotado.
Que pobre ilusão,
és escravo apenas:
pássaros no chão,
despido de penas.
Conflitos à parte,
pensa no teu ganho
e vai, sem alarde,
seguir o rebanho.
Levas na retina,
indignação ígnea.
Muita adrenalina
na veia sangüínea.
Naquela quimera,
invisível nó.
Será longa a espera
como a de Jacó.
O teu pensamento?
Nem este é teu.
Já vinha no “vento”
que você recebeu.
Tuas pobres palavras?
Que triste deidade,
são meras escravas
da realidade.
A tua liberdade?
Uma grande piada,
mais um na cidade
em busca do nada.
Verdade... Verdade...
Que mundo precário!
A moralidade!
O instinto gregário!
Verdade... Verdade...
Efêmera, vã!
Por necessidade
mais uma manhã.
Verdade... Verdade...
Teu maniqueísmo
é mesmo vontade
de mais fetichismo.
Verdade... Verdade...
II
A velha roda dentada,
range na mesma risada,
segue na mesma picada
ao som da mesma toada.
O velho mundo passado
deixou um dente encravado
num lindo sonho dourado
como se fosse um pecado.
A mesma, mesma mesmice.
Falar de amor é tolice.
Lutar pela paz é sandice.
Foi meu chefinho quem disse.
Aquele amor reprimido,
por mim mesmo inconsentido,
não, não está esquecido,
mora em meu peito ferido.
O velho mundo cariado,
o futuro idolatrado!
Esse valor repassado,
Valor desumanizado!
Subir a correnteza cansa,
Já não tenho mais esperança,
Já não sou nenhuma criança,
eu também entrei nesta dança.
Não, eu não sou nenhum bobo,
sei como queima esse fogo,
não cedo a nenhum rogo,
respeito as regras do jogo.
Queima as minhas narinas,
molha as minhas retinas,
mas tem as suas vacinas,
mas tem as suas propinas.
A velha roda dentada,
range na mesma risada,
segue na mesma picada
ao som da mesma toada.
A velha roda dentada!
Dante Gatto
gattod@terra.com.br
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