Amor, amor...
Perdidos,
frágeis seres sozinhos,
abrutalhados pela solidão,
encontramo-nos.
Ligados pela afinidade dos instintos,
compelidos pela febre das carências
e um conjunto de circunstâncias favoráveis,
no limite da permissividade preconceituosa,
seguramo-nos.
Castrados do espírito de liberdade,
fracos para qualquer investida,
pobres para qualquer fuga,
consolamo-nos.
Aromatizantes,
conservantes,
corantes,
e o diabo mais que seja...
Tudo bem diluído,
homogeneizado na bebida viável à distribuição coletiva em larga escala
embriagamo-nos.
Embriagamo-nos do vinho permitido
com a força cega dos desejos represados.
Sorvemos lentamente cada gota
e fluímos no marasmo etílico.
Adquirimos sensibilidades inéditas.
Destilamos na língua o sangue da fruta
e o seu sabor era a redenção da vida:
o ápice,
o silêncio,
o êxtase.
Inaudita primavera!
Distinguimos também a química moralista,
a artificialidade grotesca,
a gênese e a clausura,
mas aceitamos por consumado,
acostumados que somos à escravidão dos erros.
Agora eu sofro a revolução orgânica,
a revolta das vísceras,
a náusea!
Amor,
agora eu quero
Amor!
A essência.
Dante Gatto
gattod@terra.com.br
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