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Infantil-->O rio no fundo do quintal -- 16/06/2008 - 13:06 (Licio de Faria Pereira Neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O rio no fundo do quintal

Por Licio Faria

O menino adorava brincar no quintal. Aquele era seu mundo. Lá ele criava cidades, florestas, exércitos e batalhas. Lá ele inventava uma vida de faz de conta, tão real quanto a vida que corria nas calçadas da cidade.
No seu mundo de faz de conta, os pássaros que voavam entre as árvores, eram dragões alados cuja tarefa era tão somente tomar conta do mundo criado. As saúvas que trilhavam entre o gramado formavam a poderosa infantaria, grande defensora das fronteiras e que estavam sempre alertas para proteger o reino das terríveis e traiçoeiras mandrágoras aladas, que nada mais eram do que vespas que teimavam em refazer o ninho na madeira do telhado, mesmo que fossem constantemente expulsas pelo venerável cabo de vassoura, que as vezes se transformava em cavalo, noutras horas virava general, mas sempre um grande militar pronto a atender os desejos do menino.
Tudo no jardim era fruto da imaginação criativa do menino.
Mas naquela semana de janeiro, no meio das férias, a chuva não deu trégua ao garoto. Passou varias tardes trancado em casa, olhando pelo vidro molhado da varanda. O seu reino chorava as gotas que pingavam da copa das mangueiras.
Os galhos vergavam seus braços, se protegendo do vento rude que empurrava as folhas até o chão. E assim passaram-se os dias do verão. Mas ele sabia que as águas que caiam do céu, uma hora dariam trégua para que o seu mundo pudesse ser visitado de novo.
E no meio da tarde, depois de muitos dias de chuva, ele abriu um sorriso de contentamento, ele abriu os olhos para o céu brilhando, ele abriu o coração para agradecer o sol que também abria seus raios de calor para iluminar e aquecer o mundo secreto imaginado pelo menino.
Mais que depressa ele correu pela varanda ainda molhada e desceu as escadas de madeira escorregadias do lodo de tantos dias.
Do exercito de formigas não tinha noticias e nem avistou os alegres soldados carregadores de folhas
Dos gigantes alados cantadores, não ouviu um pio.
E dos inimigos vespas - nem se deu ao trabalho de procura-los
Que nada, agora o menino tinha os olhos encantados pelo filete de água que corria entre as bananeiras, pingando nas pedras do quintal e abrindo brechas na terra macia do campinho, sumindo silenciosamente na fronteira distante do reino inventado.
Era um rio? Um córrego? Um riacho? Um fio d´água sem pressa de desembaraçar. Uma linha d´água sem agulha para costurar.
Era um rio de águas tão claras.
Sentado na pedra onde brotava o filete, ele pensou em como um rio cresce – qual era o alimento das águas para que elas tomassem fôlego e volume. Na escola, o menino sabia das matas ciliares, aquela vegetação que fica nas margens dos rios - árvores grandes, arbustos, gramado.
Ficou decidido a alimentar seu amigo, para vê-lo crescer e assim, ter com quem conversar.
No começo, o menino plantou sementes nas bordas do filete. E as sementes germinaram, a água brotou do chão com mais força. Depois as mudas subiram, abrindo os galhos para o sol, e a água agradecida cavou um leito no chão duro do quintal.
O menino, todos os dias, sentava na pedra que brotava água e lia estórias para o seu rio. E todos os dias o menino ria para o rio. Como seu pai tinha feito antes, ele contava as mesmas estórias para o rio. E o tempo passava devagar, como as águas que passavam pelo leito do rio.
O menino, agora adolescente, tinha compromissos, provas, amigos, mas ainda se sentava na pedra do rio para falar de sua vida. E o rio sempre escutando, respondendo com borbulhas, crescendo o amor pelo menino.
E muito tempo se passou – o menino sumiu e o rio cresceu. As arvores agora frondosas, acariciavam o leito do rio com seus galhos elegantes e folhas macias. E o silencio da floresta só era quebrado pelos borbulhos da água chamando o menino.
Mas o menino cresceu e não mais entendia a conversa do rio.
Um dia, um velho passa pelo rio. Senta-se na pedra onde tudo começou e se abaixa para beber água. O rio de águas claras alimenta o velho, de pele rugosa, de mãos macias, de olhar bondoso. E nos olhos do velho o rio enxerga o amor do menino de outrora.
E o rio borbulha para o velho. Eles conversam aquela conversa que so as crianças entendem e que o menino adulto desaprendera. Mas o velho, com a sabedoria do tempo, relembra dos tempos de outrora.
Uma lagrima corre da face do velho e pinga no leito do rio.
O tempo continua correndo como as águas do rio e um dia um menino correndo tropeça na pedra e se machuca. O choro faz brotar lagrimas que caem n´água. O menino lava o rosto das lagrimas e o joelho machucado. A água doce do rio cura a dor da ferida e o menino sorri para o rio. E naquele sorriso o rio descobre que o menino voltou, não o mesmo menino, mas o mesmo sorriso que um dia alimentou o rio.
E o rio descobre que o tempo muda as coisas.
O tempo muda as pessoas.
O tempo muda o rio
Mas o tempo não muda o amor das pessoas, das coisas, do rio.


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