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Infantil-->Amigos Inseparaveis -- 16/06/2008 - 14:42 (Licio de Faria Pereira Neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Amigos inseparáveis

Éramos inseparáveis. Não me lembro quando eles chegaram. No começo eles eram pequeninos, quase não apareciam. Com o passar do tempo, eles cresceram, e eu também cresci. Estávamos sempre nos divertindo. Cada sorriso, cada gargalhada, cada brincadeira e podíamos ver como eles e eu combinávamos. Não dava para esconder a felicidade que nós três desfrutávamos. Crescemos juntos e ficaríamos sempre juntos.

Eu vivia rindo com eles. Cada gargalhada gostosa, ou os sorrisos de felicidade. Se eu os via, estávamos felizes. Não dava para rir sem a presença daqueles grandalhões.

Nunca parei para pensar que essa amizade um dia poderia acabar, que nós podiamos um dia separar. Nossas raizes eram profundas.

Se eu brincava, eles tinham de aparecer, se eu sorria, eles estavam la. Até no choro eles me acompanhavam.

Apesar de sermos tão ligados, um dia tivemos de nos separar. Eu chorei muito quando eles foram embora. Foi um acidente, jamais imaginei que os 2 irmãos e eu um dia ficaríamos distantes.

E desse dia em diante, o meu sorriso nunca mais foi o mesmo. Sentia a falta deles. Foi uma separação muito dolorida.

Se eu brincava, não sorria com a felicidade de antigamente. Se eu conversava, sempre me vinha a lembrança os dois danadinhos.

Mas para o papai, a separação não tinha sido definitiva. Ele fez de tudo para preservar meus amigos. Mesmo separados, ele os cuidava, longe de mim.

Não estávamos juntos no dia a dia, mas eles sempre estavam na minha memória. E sempre aos cuidados do papai.

Para ele, um dia estaríamos juntos de novo, unidos e felizes. Mas para isso ele precisa cuidar do cantinho dos meus amigos. Apesar de não estarem mais comigo, seu lugar foi sempre cuidado. Alguns amigos do papai ajudaram e me ensinaram como cuidar dos outros amigos.

Eu o ouvia e, mesmo não entendendo nada, seguia seus conselhos. Muitos meses se passaram. Novos amigos vieram, mas o lugar dos velhos camaradas nunca era ocupado. Os amigos de papai me ensinaram a cuidar dos amigos novos, me ensinaram a respeita-los mas, principalmente, me fizeram cuidar do cantinho daqueles dois fujões.

A Dedéia era muito delicada com meus amigos. Olhava por eles, sempre dando conselhos, sempre cuidando com carinho de toda a família. Mas o melhor é que ela me dava pequenas lembranças, em cada visita que fazia.

O André era diferente. Todo serio, me olhava com olhar de médico. Tirava fotos. Fazia buraquinhos, pintava, as vezes ate fazia cócegas nos meus amigos. Era engraçado vê-lo trabalhando – as vezes ele era o ladrão que usava mascaras, outras vezes era o policial que dava conselhos.

De todos os amigos do papai, era o André quem mais me divertia.

A Denise também me dava forças, me encorajava, dizia que uma amizade como aquela só podia ter um final feliz. Mas ela era diferente, as vezes brincava de índio e prendia todos na cabaninha, outras vezes jogava água em todo mundo. Água colorida, água cristalina, água fria, água refrescante. Mas tudo com carinho e atenção.

Já havia passado quase um ano da separação e o papai me levou a um novo amigo – o Doutor Rodrigo. Ele era diferente de todos, muito sério, tinha um escritório no alto do prédio. E papai também trabalhava para o Doutor Rodrigo.

Via os dois conversando aquela conversa de adultos. As vezes falavam baixo e eu não entendia nada, outras vezes falavam alto e difícil.

E eu, ali, sentada entre os dois, curiosa para saber o que eles tanto conversavam. O Doutor Rodrigo me olhava, coçava o queixo, olhava uma luz enorme e quadrada que ficava na parede. Depois estudava um gráfico que ficava na mesa. Ele era muito sério no trabalho dele.

Visitamos o doutor Rodrigo poucas vezes. Eu adorava o prédio onde ele trabalhava porque o elevador era todo de vidro transparente. Parecia que voávamos da rua ate o telhado. E eu grudava os olhinhos no vidro para ver as casinhas la em baixo. Pareciam de brinquedo. E as pessoas eram formigas andando juntinhas, de um lado para o outro.

Finalmente, depois de um ano, as coisas estavam mais calmas. Já estava me acostumando sem meus dois amigos.

Uma tarde, como todas as outras, saímos, eu e meu pai, para uma ultima visita ao prédio de vidro que eu tanto gostava. Mas naquele dia, papai estava diferente, parecia mais apressado do que das outras vezes. Tive aquela sensação de que o mundo girava diferente. Papai chegou todo misterioso em casa. Não vi ele entrando, mas notei que ele foi direto para o escritório. Pegou o telefone e fez uma ligação. Pouco depois saímos.

Naquele dia, o Doutor Rodrigo tinha uma ajudante. Pensei que iríamos brincar de policia e bandido, porque os dois usavam mascaras, luvas e falavam baixinho.

Aguardei o começo da brincadeira, sentada na cadeira. Quanto mistério! Doutor Robrigo trouxe vários desenhos, e também aquelas fotos pequenininhas que ele sempre tirava usando a maquina fotográfica mais maluca que eu jamais tinha visto.

Fiquei de boca aberta. Quanta coisa nova e diferente... Ufa. Meus olhinhos percorriam a sala com a curiosidade de toda criança.

Fiquei sentada um tempão. Ate cochilei um momento, ou um muito tempo, não sei bem. Mas na hora que eu acordei, alguma coisa estava diferente. Papai estava do meu lado. Não entendi porque ele ria e chorava ao mesmo tempo. Ele me olhava como se nunca tivesse me visto. Alguma coisa estava diferente, eu podia sentir. Sentia um gosto de chicletes na boca, nao sei se de menta ou hortelâ.

Mas de repente, passando a língua nos lábios para provar daquele sabor, senti algo que há muito tempo não sentia.

Levantei correndo da cadeira e fui ate o vidro da janela. Era tão limpinho que parecia um espelho. Vi minha imagem refletida na janela e dei um grito. Papai me abraçou e ficamos os dois sem falar nada.

De repente eu entendi tudo. Todo aquele mistério, desde a saída de casa.

Papai tinha encontrado meus dois amigos. Na verdade, ele sempre soube onde eles estavam. Bem guardados, escondidinhos no consultório do Doutor Rodrigo.

E olhando no espelho da janela eu revi meus dois amigos – os dois dentôes brancos e lisinhos que eu tinha perdido há quase um ano atrás.

O Doutor Rodrigo implantou os dentes bem no lugar deles. Afinal a casinha estava sempre limpinha, esperando a volta dos meus queridos amigos.

Sai do consultório rindo para todo lado. Pela primeira vez, ao descer do elevador panorâmico eu olhei somente o meu reflexo e nem me importei com as casinhas que aos poucos cresciam enquanto o elevador chegava ao térreo.


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Era esse o presente que me querido papai tinha reservado para mim. Agora eu sorria novamente porque sabia que meus dois amigos estavam bem na frente da minha boca, sorrindo comigo.
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