Nada no mundo pode intrigar mais o homem do que os guarda-chuvas. Quem um dia nunca perdeu um, que atire o primeiro granizo. Há anos, décadas e até mesmo gerações, assistimos pacientementes à s perdas de guarda-chuvas. E nunca nos preocupamos com isso. Já aconteceu com quase todo mundo. Quem nunca passou por essa experiência, certamente deve conhecer alguém próximo que já viveu a situação. Um amigo, vizinho, irmão ou namorada. Não importa; todos nós, ao menos uma vez, perdemos um - ou mais. Quem nunca perdeu um guarda-chuva em toda sua vida, certamente não viveu, não conheceu a realidade do mundo.
Agora, o que realmente mais me assusta - e creio que a todo o planeta - é pensar: onde todos esses guarda-chuvas foram parar ? Todos nós já perdemos um, no entanto, desconheço alguém que já encontrou um guarda-chuva por aí de alguma pessoa que o perdera inexplicavelmente. Onde eles estão, então ?
Atualmente, existem aproximadamente seis bilhões de pessoas em nosso planeta. No entanto, é comum que uma única pessoa possua em casa mais de um guarda-chuva. Se, para facilitar os cálculos, supormos que metade da população do globo possui um guarda-chuva, existem três bilhões deles no mundo. Levando-se em consideração que praticamente todos nós já perdemos um, então, temos por volta de três bilhões de guarda-chuvas desaparecidos no planeta ! Onde eles estão? A cada dia, mais e mais deles são perdidos nas ruas, escolas, supermercados, fazendo que esse número cresça de forma fatorial. E olha que não está sendo incluído aqueles que desaparecem dentro de nossas próprias casas em época de pouca ou nenhuma chuva; são aqueles que só nos damos conta de que sumiram quando uma chuva inesperada desaba e temos que ficar revirando as gavetas e os armário atrás do objeto que jamais será encontrado.
Quando Neil Armstrong pisou pela primeira vez em solo lunar e disse a célebre frase "Este é um pequeno passo para o homem, mas um gigantesco salto para a humanidade", provavelmente estava em busca dos guarda-chuvas desaparecidos da Terra. Mas pelo que se sabe, eles também não estavam lá. Depois da visita à Lua, o homem já explorou outros planetas do sistema solar. Modernas sondas tocaram recentemente o solo marciano, outras, deram rasantes nas superfícies dos planetas que não possuem solo firme. Já penetramos até mesmo na densa e turbulenta atmosfera de Vênus. Tudo em vão. Os guarda-chuvas não estavam lá também.
Não acredito nessa história de desbravar o universo em busca de vida inteligente, não é isso o que queremos e, obviamente, não é isso o que o homem realmente procura quando lança sua sondas céu afora. Os enormes radiotelescópios instalados em diversos pontos estratégicos do nosso planeta captam, dia e noite, sinais que nos dêem uma resposta, afinal, os guarda-chuvas podem estar muito mais distantes do que imaginamos. Talvez, estamos vasculhando os nossos próprios umbigos quando na verdade o que procuramos está a anos-luz daqui. Mas o homem não desiste, é um ser racional e persistente. A luta para ver quem irá ganhar essa corrida deixou de ser travada individualmente pelos países desenvolvidos. Estamos todos unidos nessa batalha. Os países unem-se solidariamente, juntam seus poderes e buscam, em nome de todos os terráqueos, a solução definitiva para a solução do grande mal que assola o homem. Não podemos nos sensibilizar, em hipótese alguma, com problemas que fujam ao único interesse e ao maior problema da humanidade.
Enquanto estamos à procura dos guarda-chuvas desaparecidos não podemos nos mobilizar com o que não se relacione a isso. Esse é o grande e real mistério do universo. Explica-se, assim, o surgimento de áreas miseráveis em nosso país e no resto do globo. Não temos tempo para dar atenção à s pessoas que morrem todos os dias de fome, sede ou de alguma doença idiota. Só assim conseguimos explicar o mundo em que vivemos. Não temos tempo para olharmos para o lado e nem para dentro de nós mesmo. Pelo menos, enquanto não encontrarmos esses guarda-chuvas perdidos.
