POSSÍVEL ARDÊNCIA
Dizer-te amada
quão amanhece
em mim
teu disfarce
de vento, chuva,
sol de agosto.
Declarar-te
que foste e és
intempérie,
chão molhado,
odor de terra
e tempo em grão
semeado.
Augurar-te
possa edificar
um templo
sobre o qual
me unges
incenso, mirra e ouro
(como teu deus, irmão
e macho errante)
para me santificar,
enfim, no peji
augusto do teu sexo.
Afinar-te no diapasão
de nossa temperança
inda que nem restem
mais os sons
da floresta densa
do teu corpo
em cuja ardência
por 33 mil vezes
ousarei impermanente
me perpetuar.
Walter Silva
Recife, julho 1987.
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