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Artigos-->Amigos que matam ( Tahar Ben Jelloun) -- 11/08/2006 - 17:18 (Heleida Nobrega Metello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Esses amigos que empurram Israel no abismo O apoio americano ao Estado judeu é nefasto porque a administração Bush não está interessada em ver a paz se instaurar no Oriente Médio.



Tahar Ben Jelloun* especial para o "Le Monde"



A ameaça a mais séria que pesa sobre Israel talvez seja a paz, mesmo uma paz justa e duradoura, uma paz feita de um reconhecimento mútuo entre dois Estados impelidos a viverem lado a lado, uma paz que seria a aceitação do

real, não da fantasia, não dos mitos. Ora, o real é complexo, ele é dificilmente controlável por completo; ele se recusa, sobretudo, a submeter-se aos desejos de dominação e até mesmo de humilhação; ele está sendo monopolizado por enquanto por furores impacientes, cruéis e extremos.



É uma realidade marcada pelo trágico, pelo ódio, pelo racismo e a engrenagem da vingança.



É preciso dizer as coisas friamente, porém tais como elas são, ou ao menos, tais como elas estão sendo vivenciadas no mundo árabe: os sraelenses, na sua maioria, não têm a menor vontade de viver ao lado dos palestinos porque feridas graves e rancores se acumularam, porque mal-entendidos históricos nunca foram esclarecidos, porque as guerras não pouparam ninguém.



Já, os palestinos, por terem sido alvos de uma ocupação feroz e de destruições brutais, não têm a menor vontade de compartilhar o pão, nem de acreditar que eles viverão em paz com um inimigo que erigiu um muro de concreto, um muro de ódio, e que nunca se cansou de persegui-los e de impedi-los de existir, no sentido banal e vital da palavra.



Para existir, é preciso dispor de um Estado com fronteiras contínuas e seguras, poder freqüentar a escola e depois a universidade, fazer projetos

para o futuro, ter um passaporte, viajar, ter uma polícia, um exército, construir estradas, hospitais, parques, creches e casas, sem pensar que um dia elas poderiam ser aniquiladas por tratores e escavadeiras que perseguirão sem trégua seus habitantes por estes serem suspeitos de ter no meio deles indivíduos que resistem à ocupação...



Existir, para Israel, é contar com fronteiras seguras e reconhecidas, com garantias para a segurança dos seus cidadãos, é não ver mais kamikazes que se fazem explodir dentro de um restaurante ou um ônibus, matando inocentes, é não mais temer receber foguetes atirados do outro lado da fronteira, é solucionar de uma vez por todas esta questão de vizinhança, restituindo os territórios ocupados em troca da paz, liberando os prisioneiros, fazendo um grande esforço para renunciar à lenda do Grande Israel, é parar de fazer com que os povos árabes carreguem o crime contra a humanidade que foi o Holocausto, perpetrado em nome de uma ideologia européia, fato este que não deve ser esquecido; e, por fim, é aceitar tornar-se um Estado cuja normalidade não é uma enfermidade.



O que está acontecendo nas últimas três semanas no Líbano e também em Gaza não é uma guerra, e sim, muito simplesmente um grave erro político e

militar. Não se massacra inocentes por suspeitar estes de protegerem elementos do Hizbollah. Não se recusa o cessar-fogo e a negociação a serem

administrados sob a supervisão de uma instância neutra, a das Nações Unidas.



Esta intransigência faz com que Israel caia na armadilha do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad que gostaria de vê-lo desaparecer.



Infelizmente, esta loucura encontrou um eco ensurdecedor em meio a populações que estão prontas para partir para o tudo ou nada contra o

sionismo. O discurso deste iraniano não parece ser nenhum incidente involuntário.



A política de ocupação israelense fez nascer e incentivou o desenvolvimento de um anti-semitismo numa parte não menosprezível das populações árabes.



Isso precisa ser dito, assim como é importante lembrar aos dirigentes dos países árabes que o racismo em caso algum promove o recuo da injustiça, que o problema palestino-israelense é um problema colonial e não uma questão religiosa que opõe judeus a muçulmanos. O mundo árabe deveria lutar contra todas as formas de racismo, caso ele quiser ser crível e ser ouvido. Judeus e muçulmanos já chegaram a conviver em meio a uma bonita simbiose social e cultural, no Marrocos, entre outros, conforme tão bem descreveu o historiador Haïm Zafrani.



Israel também está se deixando levar, só que por sua livre e plena vontade, pela engrenagem da política desastrosa de George W. Bush. Todos nós sabemos que historicamente, a América sempre foi o apoio indefectível do Estado de Israel, mas, em muitos casos, é preciso saber escolher seus amigos. Ora, Bush não pode fazer nada benéfico para esta região. Ao contrário do que aconteceu com Jimmy Carter e Bill Clinton, ele não está nem um pouco interessado em ver se concretizar um projeto de paz. Bush está assombrado pelo ódio do mundo árabe-muçulmano porque ele é incapaz de compreendê-lo e menos ainda de respeitá-lo. Vai ser preciso que a justiça se debruce um dia desses sobre os crimes cometidos em nome da política deste presidente; a sua

arrogância e o seu fanatismo vitimaram centenas de milhares de pessoas no Iraque e, atualmente, por meio do seu apoio sistemático à política de Sharon e agora do seu sucessor, ele é também responsável pela morte de centenas de civis, sob as bombas que ele manda encaminhar para Israel.



Neste sentido, já não é sem tempo de parar com os massacres. Chegou a hora de dar férias para a morte que ceifa durante o seu sono famílias que nada fizeram, nem contra os israelenses nem contra os palestinos. Chegou a hora de salvar Israel de si mesmo, dos seus amigos que o empurram no abismo. Caso ele prosseguir sua aventura com a mesma maldade e os mesmos erros, uma coisa é certa: jamais ele conhecerá a paz, aquela que reclama uma maioria dos seus cidadãos, aquele que vem sendo defendida corajosamente por uma minoria de intelectuais judeus em todo o mundo, aquela da qual a Palestina precisa para renascer e existir.



Ora, para salvar Israel, é preciso que ele aceite tornar-se um Estado igual a todos os outros, vivendo finalmente em meio a uma normalidade feita de fatos corriqueiros e até mesmo de banalidade, aquilo que talvez seja a base das coisas essenciais, as coisas da vida. É esta mesma normalidade que vem sendo reclamada pela Palestina. O extremismo que hoje está no poder só foi possível porque a política israelense fechou as portas, todas as portas para a coexistência.



Com uma paz verdadeira, este extremismo se apagará sozinho, quando ele não mais terá razão de ser.





Tradução: Jean-Yves de Neufville





Fonte:

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2006/08/10/ult580u2095.jhtm

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