Usina de Letras
Usina de Letras
91 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62237 )

Cartas ( 21334)

Contos (13264)

Cordel (10450)

Cronicas (22537)

Discursos (3239)

Ensaios - (10367)

Erótico (13570)

Frases (50635)

Humor (20031)

Infantil (5434)

Infanto Juvenil (4769)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140810)

Redação (3307)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6192)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Os bons tempos -- 01/02/2002 - 22:38 (Fábio Feldman) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Três velhos. Três velhos no banco da praça. Três velhos no banco da praça, jogando migalhas aos pombos e relembrando os bons tempos que não voltam mais.
_ Carros. Não se fazem mais carros como antigamente.
_ Eu me lembro bem de quando ainda tinha meus vinte anos. Foi quando comprei meu primeiro possante. Um Dodge verde-água, zero quilómetros, envenenado! Comprei num brechó na saudosa praça da estação, por três mangos e um vale transporte.
_ Esses carros de hoje são todos umas porcarias que não valem de nada. Dirige uma vez e pó dizer tchau, tchau.
_O meu corcelzinho poderia bater qualquer um desses japoneses se ainda estivesse novo. É um absurdo.
_ Três mangos e um vale transporte!
_ Pois eu digo que o problema é o estilo.
_ Estilo, grande estilo!
_ Os possantes perderam toda a personalidade. Onde estão os roncos do motor, a magia que envolvia o aquecer da gasosa nas frias manhãs, o visual carrancudo de nossas carroças motorizadas? Para onde foi a mágica das pequeninas coisas?
_ As coisas vão mudando e ficando vazias.
_ Um vale transporte!
_ É, bons tempos aqueles...
Todos suspiram
Ficam um tempo em silêncio, como que refletindo a respeito dos fatos discutidos. Após alguns minutos, eis que um deles retoma o assunto.
_ Sabe o que mais não fazem como antigamente? Cerveja!
_ É verdade, é verdade...
_ No meu tempo cerveja era usada como desentupidor de pia, era coisa de macho!
_ Servia até de combustível pra tanque.
_ De guerra!
_ O homem que bebesse um engradado sozinho e sobrevivesse...
_ Ah, essa eu nunca vi!
_ Cinquenta porcento de álcool.
_ No mínimo.
_ Era forte mas sem perder a elegància!
_ Falou e disse. O homem bebia uma cervejinha, falava alguma bobagens, porque é homem e tudo mais, mas nunca ficava tonto. Eu sei que eu nunca fiquei.
_ Hoje em dia é só uma gota d´álcool misturada com uma canecona de água.
_ E já tem até cerveja sem álcool!
_ Era mais fácil passar como água mineral.
_ Tanque de guerra. De guerra!
Todos suspiram.
Continuam jogando comida aos pombos. Logo após um pequeno intervalo, retomam a prosa.
_ Até a música é diferente.
_ Hoje em dia música é coisa do capeta! É do zebedeu, do belzebu! As coisas que meu neto escuta... eu tenho tanto medo...
_ Que saudade do velho Villa.
_ Villa, grande Villa!
_ Nas rádios de hoje é só sexo e malcriação. A música é reflexo da decadência de nosso povo. É só malcriação.
_ É demoníaco! Urros medonhos à noite. Eu até pensei em chamar um exorcista pro meu neto, mas os pais não deixam, falam que é normal. Normal uma ova! Isso é coisa do Diabo, do chifrudo, do Exu- Caveira. Eu tenho tanto medo...
_ O velho samba de roda, alguem viu? Por que faz tempo que eu não vejo um chorinho bem tocado.
_ Samba, eles dizem, é coisa de velho!
_ Hoje é só pagode.
_ Maldito pagode...
_ É o capeta! É o capeta!
Todos suspiram.
O saco de migalhas de um deles acaba. Os pombos também não parecem querer mais. Mas os velhos continuam lá.
_ O futebol então, nem se fala, né?
_ Mas que desgraça, hein?
_ Futebol de verdade não existe mais. No meu tempo sim é que se sabia jogar bola. Uma partida demorava sete horas e só terminava quando todos os membros do outro time estavam ou mortos ou em coma. Uma demosntração de honradez e de coragem.
_ O futebol-arte agora passou a futebol-comércio. Não há respeito pelas chuteiras.
_ Garrincha, Pelé, Tostão, Reinaldo...
_ Grande Reinaldo!
_ ...esses sim eram os donos da bola.
_ Você podia até usar marretas. Sete horas. Sete horas ininterruptas! E se o adversário pedisse por clemência, ele era esbofeteado na frente de todos como uma mulherzinha!
_ Não existe amor. A paixão futebolística passou a paixão contrachequística.
_ Bom neologismo, meu amigo!
_ Eu faço o que eu posso
_ Sete horas, pra vocês terem idéia.
_ É, bons tempos aqueles.
Todos suspiram.
Ficam um tempo em silêncio. Eis que, do nada, surge na frente deles uma pequena, fazendo um cooperzinho matinal. Mas que pequena! Dava até gosto de olhar. Cabelos louros cachedos, olhos azuis, seios redondos e saltitantes, bochecas de Greta Garbo em uma noite de luar... Era um nocaute! Tudo isso em sua mais tenra e inocente idade.
Ao observarem aquele monumento, eles não disseram nada.
Apenas suspiraram.






Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui