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cronicas-->Padarias -- 01/02/2002 - 22:42 (Fábio Feldman) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era um bairro pequeno de uma cidade pequena. Tudo era muito calmo e pacífico, basicamente um bairro residencial onde não havia competições ou um comércio que de alguma forma chamasse atenção. Existia uma venda, um bar, um mercado, uma pequena livraria, um banco e uma marcenaria; um armazém, uma camisaria, dois quiosques (mas pertenciam ao mesmo dono e eram um do lado do outro, portanto sendo mais facilmente considerados um pequeno centro de entretenimento movido à genebra e aguardente) , um açougue......
...E uma padaria. Era a padaria do seu Jorge, batizada de forma criativa por seu proprietário como `Padaria do Seu Jorge´. Podia ser considerada, mesmo com a forte concorrência exercida pelo centro de entretenimento , o point da área, um lugar onde jovens e adultos, batedores de pelada e profissionais da Dama se reuniam durante as manhãs para comprar a broa de dona Mercês (esposa do seu Juca, alfaiate responsável pela camisaria e prima em segundo grau de Júlio, dono do armazém) e tomar o pingado do seu Jorge (viúvo de Leonor, irmã de Marcelo, cunhado de Helena, vizinha de Mercês, empregada de Jorge) . Por um bom tempo aquele foi um bairro feliz. Até que um homem alto, magro e carrancudo, pouco conhecido do resto dos habitantes teve uma idéia incomum: construiu uma padaria em frente à padaria do seu Jorge. Era sem dúvidas uma construção arrojada: possuía uma enorme placa, cheia de desenhos e luzes neon cintilando por sobre o enunciado: `Padaria Pão Feliz- o mais barato do bairro´. Ao ver a placa gigantesca e o farfalhar hipnótico da luzes convocando a todos os moradores da região a experimentarem a novidade, Jorge considerou estar presenciando seu fim. De fato, após um mês suas vendas caíram vertiginosamente. Foi quando uma terceira padaria surgiu no lado leste do bairro, seguida por uma quarta e uma quinta.
Em menos de um ano, cerca de vinte e nove padarias ocupavam o espaço confinado que outrora podia ser chamado de bairro- agora muito mais um conglomerado de panificadoras com slogans diferentes. Para se ter idéia, ao lado direito do seu Jorge abriram a `Pão Gostoso´, ao esquerdo a `Á-li-Ba-Pão´- idéia da dona Mercês que acabou largando o marido para morar com o seu Lucindo, deixando o antigo patrão e indo trabalhar com o amante -, na frente permanecia a `Pão-Feliz´ que agora mudou para Primapão, não me perguntem por quê e , na diagonal superior esquerda (sim , devido a anéis magnetizados de urànio presos à sua base, ela flutuava no ar) estava a `Pão de Vênus´.
Muitas são as hipóteses , poucas são as respostas para a verdadeira proliferação de panificadoras em Afonso de Melo (esse é o nome do bairro, Afonso de Melo). O que se sabe é que grande parte das lojas , hospitais e casas da área fecharam para que seus donos pudessem seguir seus sonhos e abrir uma padariazinha. Pegue o caso de seu Joarez, dono da respeitável Loja de iscas do seu Barroso (nome do primeiro dono, que morreu de tuberculose durante a Segunda Guerra). Possuía uma casa vistosa, um sítio verdejante e levava uma vida digna frente a constante procura de iscas por aquelas bandas. Eis que um dia chega em casa, convoca o pessoal para uma reunião de família e dá as boas novas:
_ Minha gente, demoli a loja e a partir de amanhã não mais existirá a Loja de iscas do Barroso, mas sim, A Grande Padaria do Barroso!
_ Você vai abrir uma padaria? Mesmo diante dessa febre, dessa multidão de gente doida abrindo padaria a cada esquina? Assim vamos todos morrer de fome...
_ Mas você não entende? Esse tem sido meu sonho desde os quinze anos. Não posso fugir desse sonho por mais tempo. Preciso alcançar as estrelas, Maria...
_ E por que não Padaria do Joarez então?
_ O homem morreu de tuberculose Maria, de tuberculose!
Hoje moram todos num cortiço. Mas a padaria continua aberta.
A população de Afonsão- apelido mais comum para denominar o bairro-, após o aumento de panificadoras também vem crescendo. Não em tamanho, mas em massa. Todos estão mais altos e mais gordos diante da ingestão exagerada de pão. A linha rodoviária responsável pelo tráfego de ónibus que liga Afonsão a outros pontos da cidade- que por um triz não virou Panificadora Transporte da bisnaga - precisou reformar a largura dos assentos devido ao tamanho crescente do peso dos usuários. Pra se ter idéia a miss- Afonso 99 pesava oitenta e cinco quilos e era a mais esguia da região- correu o boato de que era portadora de uma rara doença vinda da Malásia , pobrezinha...
Mas o mais interessante de Afonso de Melo, que até o início do ano possuía de acordo com o cartório- que quase virou `Pão Legal/ Lanchonete & Padaria´- cerca de setenta e sete padarias, são as promoções que cada uma das lojas cria, para atrair os clientes. Exemplos:
Padaria a Formosura do Pão- Leve meia dúzia de pães e ganhe inteiramente grátis um chaveirinho musical que toca o repertório completo do Reginaldo Rossi
Padaria Porrada (ex-academia de ginástica Soco no estómago)- Compre mais de dez pães e ganhe suprimento para a vida toda de Anabolizantes Mineon, porque com Mineon, é massa!
Panificadora Flora (ex -Flora da flora)- compre meia dúzia de rosquinhas e se sinta livre para comer a Flora
Padaria da Morte (antiga Funerária)- Compre dez pães e leve um leite.
E por aí vai. Entretanto, na posição de mais antigo proprietário da região, foi o seu Jorge que teve a mais carismática das idéias: criou o disk-Pão. Era só discar e ele levava o que quer que fosse direto na sua casa. Todavia, como o pobre velho não possuía mais condições de pagar funcionários e muito menos de comprar uma moto, um carro, uma bicicleta ou mesmo um tênis, era ele que levava as encomendas em cada uma das residências. Foi o que aconteceu comigo, de uma certa forma:
_Seu Jorge? É o Fábio.
_ Oh meu filho, nem reconheci tua voz! O que manda?
_ Preciso de Cinco pãezinhos, uma broa de fubá, uma caixa de sorvete de chocolate e uma coca de dois litros.
_ Cinco pãezinhos...sorvete...dois litros. Certo, estará aí no máximo em quinze minutos!
Sete dias depois batem na porta. Era o velho, cheio de pacotes amarrados no braço.
_Aqui está seu pedido meu filho.
_ Já, tão cedo... espere um pouco, estas não são as coisas que eu pedi!
_ Impossível! O velho Jorge jamais erra um pedido.
_ Que eu me lembre eu pedi cinco pães, uma coca, uma broa e um sorvete de chocolate. O senhor me trouxe uma bisnaga, um pé de alface, um macaco, um pneu e uma caixa de camisinhas sabor morango!
_ Ops, essa é minha. Sabe como é, a Flora não tinha troco!

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