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Cronicas-->Supermercados -- 01/02/2002 - 22:43 (Fábio Feldman) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Todos têm fobias. Uns não suportam elevadores. Outros, detestam escadas. Eu, tenho pavor de supermercado.
Acredito que todo homem, consciente ou inconscientemente, desfruta de tal medo, mesmo porque supermercados são, sem dúvida, obras malignas. Acho inclusive que o primeiro dos mercados foi projetado por algum seguidor de Satanás, visando o magnetismo diabólico que esses conglomerados exalam sobre as mulheres.
Tomemos como exemplo os supermercados presentes nos Shopping Centers. As mulheres, por mais distantes que estejam, ao farejarem-los, transformam-se em zumbis, deixando tudo para trás (muitas vezes até a própria família) e, como Boris Karlof, com braços esticados e passos pesados são sugadas para seus interiores.
Não estou querendo dar uma de machista. Não são todas as mulheres que sucumbem ao poder dos mercados. E há também os homens que gostam de uma boa comprinha (não conheço nenhum mas já ouvi alguns casos a respeito). Porém, como é geralmente a mulher a responsável pelo bom funcionamento do lar, é ela a mais prejudicada. Ela e sua família, que quase sempre é arrastada para dentro do recinto sem nem ao menos estar ciente do crime que cometeu.
E por falar em crime, se o caro leitor analisar bem, estará apto a constatar que os supermercados assemelham-se bastante a uma outra instituição muito em voga na sociedade contemporànea: a prisão. Para começar não existem janelas ou relógios nas paredes. Todos os recados endereçados aos detentos são transmitidos através de uma misteriosa- e muitas vezes irritante- voz masculina, proveniente de alto-falantes instalados em pontos estratégicos do recinto.
Existe uma cafeteria ( que normalmente serve o mesmo tipo de comida servida na cadeia), a área de lazer ( no caso representada por pequenas bancas de amostras grátis de queijo parmesão mofado) e a solitária ( seção de peças automobilística, onde dificilmente se vê alguém). Logicamente, você precisa ser revistado no momento de entrar e sair, diversas vezes largando seus pertences e apenas reconquistando-os com o término da pena. Afinal, não querem que a vovó traga-lhe uma lima dentro da torta de maçãs, não é mesmo?
É interessante notar também o poder de sedução e persuasão que eles exercem sobre os mais determinados. Grande parte das famílias entram nos supermercados como comunas fugindo de McCarthy. A senhora empina a lista, o senhor guia o carrinho, e as crianças... bem, as crianças fazem o que as crianças fazem. Andam todos a passos largos, pretendem comprar apenas o essencial, nada além disso. Talvez uma garrafinha de óleo de rísseno para o Jorginho, que está muito magrinho, o coitado. Mas nada além disso. Apenas o que a lista ordena... entretanto, chegando na metade do percurso estão todos tomados pelo feitiço emanado pelas bugigangas inúteis e andam a passo de lesma.
_Veja querido, um desentupidor de pias!
_ Mas nós já temos um desentupidor de pias...
_ Mas não o novo desentupidor de pias Flash Gormaton Bi-Dimensional com sistema de ultrasucção, desenvolvido sobre medida para fazer a sua cozinha mais feliz!
_ Mas isso é o dobro do preço do convencional!
_Marcos, eu quero ter uma cozinha feliz!...- e começa a chorar.
Particularmente, só vejo uma coisa de positiva nas chamadas "compras do mês"(além de estar obtendo uma meia dúzia de artefatos imprescindíveis para a minha sobrevivência, como comida, por exemplo): sempre que sou forçado a embarcar nestas jornadas até o inferno, meu senso de humor, a princípio em frangalhos, tende a aumentar diante da presença inusitada de tanta quinquilharia inútil. É só entrar na área de cosméticos que já começo a rir. Se a vinte anos atrás existiam quatro tipos diferentes de pintura para cabelo, hoje existem mais de setecentas e vinte variações do gênero: "loiro acinzentado 1 natural", "loiro acinzentado 1 artificial", "loiro acinzentado 1 artificial com reflexos prateados naturais", "" cor de Jambo", "cor de Manga", "cor de Mambo"(?), "cor de Merda", "azul", "vermelho", "azul avermelhado"(??), tem de tudo. Mas, acredito que o mais estúpidos dentre todos os estúpidos produtos estúpidos que já vi (e isso é verídico), foi o pote de 500g de "Barro Natural". Será mesmo que alguém vai pagar cinco merréis por um pote de barro? Gente, acorda! É barro. Barro! É o fim da sociedade ocidental como a conhecíamos. A partir do momento que pessoas passam a vender barro em potes e, o que é mais difícil de engolir, outras passam a compra-lo, fica difícil visualizar um final feliz para a humanidade.
Mas não pensem que acabei por aqui. Ainda não cheguei a comentar sobre a mais terrível dos compartimentos. Um lugar tão assombroso que inspirou os primeiros pesadelos de Kafka. Um local tão aterrorizante que foi na verdade um projeto concebido por um dos engenheiros alemães do Terceiro Reich, com o objetivo de punir mentalmente os judeus antes que fossem guiados até as càmaras de gás. Sim meus amigos, refiro-me à seção de frutas e perecíveis! Tudo naquele lugar dá-me calafrios: a fraca luminosidade, os caminhos vertiginosos e labirínticos formados por entre as bancas mal distribuídas, as velhas varizentas observando atentamente a textura, o comprimento a cor e todos os principais pontos determinantes da saúde dos frutos, tudo isso me dá náuseas.
Escolher uma fruta perfeita é um pouco como ganhar na loteria. Trata-se de uma tarefa árdua, afinal, cada fruto possui uma frescura diferente.
_ Não, você está fazendo errado. Pra ver se essa tá boa, o senhor tem que mirar bem para a luz , vira-la até estabelecer um àngulo perpendicular entre a sombra projetada em sua mão e o vento vindo da seção de carnes...
_Assim?
_Humm... um pouco mais para a direita.
_ Desse jeito?
_ Perfeito! Agora basta apertar um pouco na lateral e ver se tá durinho... ops, essa tá podre.

Muitos foram os que me perguntaram como seria, ao meu ver, um mundo perfeito, aguardando por resposta um sentimentalóide "um lugar sem fome", ou " um planeta sem desigualdades sociais"...É por esse motivo que sempre desapontam-se diante de minha resposta. Ao meu limitado entender, um mundo perfeito seria um mundo livre de supermercados e lojas de sapatos. Oh, as lojas de sapato...!Mas essa fica para uma futura crónica. Estou muito tenso para escrever agora!


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