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Poesias-->Pra Nunca mais Chorar -- 21/06/2002 - 14:02 (Daniel Amaral Tavares) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Passava do meio dia, o cheiro de pão quente invadia aquela rua,

um sol escaldante convidava a todos para um refresco.



Ricardinho não agüentou o cheiro bom do pão e falou:



- Pai, tô com fome!



O pai, Agenor, sem ter um tostão no bolso, caminhando desde

muito cedo em busca de um trabalho, olha com os olhos marejados para o

filho e pede mais um pouco de paciência...



- Mas pai, desde ontem não comemos nada, eu tô com muita fome, pai!



Envergonhado, triste e humilhado em seu coração de pai,

Agenor pede para o filho aguardar na calçada enquanto entra na Padaria a

sua frente. Ao entrar dirige-se a um homem no balcão:



- Meu senhor, estou com meu filho de apenas 6 anos na porta, com

muita fome. Não tenho nenhum tostão, pois sai cedo para buscar um

emprego e nada encontrei. Eu lhe peço que em nome de Jesus me forneça um

pão para que eu possa matar a fome desse menino, em troca posso varrer o

chão de seu estabelecimento, lavar os pratos e copos, ou outro serviço

que o Senhor precisar.



Amaro, o dono da Padaria estranha aquele homem de semblante calmo e

sofrido, pedir comida em troca de trabalho e pede para que ele chame o

filho. Agenor pega o filho pela mão e apresenta-o a Amaro, que

imediatamente pede que os dois sentem-se junto ao balcão, onde manda

servir dois pratos de comida do famoso PF (Prato Feito) - arroz, feijão,

bife e ovo.



Para Ricardinho era um sonho, comer após tantas horas na rua. Para

Agenor, uma dor a mais, já que comer aquela comida maravilhosa fazia-o

lembrar-se da esposa e mais dois filhos que ficaram em casa apenas com

um punhado de fubá. Grossas lágrimas desciam dos seus olhos já na

primeira garfada.



A satisfação de ver seu filho devorando aquele prato simples como se

fosse um manjar dos deuses, e a lembrança de sua pequena família em

casa, foi demais para seu coração tão cansado de mais de 2 anos de

desemprego, humilhações e necessidades.



Amaro se aproxima de Agenor e percebendo a sua emoção, brinca para

relaxar:

- O Maria! Sua comida deve estar muito ruim! Olha o meu amigo está

até chorando de tristeza desse bife, será que é sola de sapato...?

Imediatamente, Agenor sorri e diz que nunca comeu comida tão

apetitosa, e que agradecia a Deus por ter esse prazer. Amaro pede então

que ele sossegue seu coração, que almoçasse em paz e depois conversariam

sobre trabalho.



Mais confiante, Agenor enxuga as lágrimas e começa a almoçar, já que sua

fome já estava nas costas. Após o almoço, Amaro convida Agenor para uma

conversa nos fundos da Padaria, onde havia um pequeno escritório. Agenor

conta então que há mais de 2 anos havia perdido o emprego e desde então,

sem uma especialidade profissional, sem estudos, ele estava vivendo de

pequenos "biscates aqui e acolá", mas que há 2 meses não recebia nada.



Amaro resolve então contratar Agenor para serviços gerais na Padaria, e

penalizado, faz para o homem uma cesta básica com alimentos para pelo

menos 15 dias. Agenor com lágrimas nos olhos agradece a confiança

daquele homem e marca para o dia seguinte seu início no trabalho.



Ao chegar em casa com toda aquela "fartura", Agenor é um novo homem -

sentia esperanças, sentia que sua vida iria tomar novo impulso. Deus

estava lhe abrindo mais do que uma porta, era toda uma esperança de dias

melhores. No dia seguinte, às 5 da manhã,

Agenor estava na porta da Padaria ansioso para iniciar seu novo

trabalho. Amaro chega logo em seguida e sorri para aquele homem que nem

ele sabia porque estava ajudando. Tinham a mesma idade, 32 anos, e

histórias diferentes, mas algo dentro dele chamava-o para ajudar aquela

pessoa. E, ele não se enganou - durante um ano, Agenor foi o mais

dedicado trabalhador daquele estabelecimento, sempre honesto e

extremamente zeloso com seus deveres.



Um dia, Amaro chama Agenor para uma conversa e fala da escola que abriu

vagas para a alfabetização de adultos um quarteirão acima da Padaria, e

que ele fazia questão que Agenor fosse estudar.

Agenor nunca esqueceu seu primeiro dia de aula: a mão trêmula nas

primeiras letras e a emoção da primeira carta...



Doze anos se passam desde aquele primeiro dia de aula. Vamos encontrar o

Dr. Agenor Baptista de Medeiros, advogado, abrindo seu escritório para

seu cliente, e depois outro, e depois mais outro.

Ao meio dia ele desce para um café na Padaria do amigo Amaro, que fica

impressionado em ver o "antigo funcionário" tão elegante em seu primeiro

terno.



Mais dez anos se passam, e agora o Dr. Agenor Baptista, já com uma

clientela que mistura os mais necessitados que não podem pagar, e os

mais abastados que o pagam muito bem, resolve criar uma Instituição que

oferece aos desvalidos da sorte, que andam pelas ruas, pessoas

desempregadas e carentes de todos os tipos, um prato de comida

diariamente na hora do almoço. Mais de 200 refeições são servidas

diariamente naquele lugar que é administrado pelo seu filho, o agora

nutricionista Ricardo Baptista.



Tudo mudou, tudo passou, mas a amizade daqueles dois homens, Amaro e

Agenor impressionava a todos que conheciam um pouco da história de cada

um, contam que aos 82 anos os dois faleceram no mesmo dia, quase que a

mesma hora, morrendo placidamente com um sorriso de dever cumprido.



Ricardinho, o filho mandou gravar na frente da "Casa do Caminho", que

seu pai fundou com tanto carinho:



"Um dia eu tive fome, e você me alimentou. Um dia eu estava sem

esperanças e você me deu um caminho. Um dia acordei sozinho, e você me

deu Deus, e isso não tem preço. Que Deus habite em seu coração e

alimente sua alma...

E, que te sobre o pão da misericórdia para estender a quem precisar.







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