Thomas Morus se assistisse na televisão ao horário eleitoral gratuito do PFL, certamente ficaria com inveja de Roseana, porque perceberia que o Estado Ideal não fora, como acreditara, retratado em sua obra "Sobre o melhor estado de uma república e sobre a nova ilha Utopia". Chegaria abismado à conclusão de que o Estado Ideal - pasmem - é o Maranhão. Ainda bem que Morus morreu decapitado em Londres no dia 6 de julho de 1535. Em certas ocasiões, estar morto é uma dádiva.
A palavra Utopia em grego significa "em lugar nenhum". E é justamente essa a impressão que se tem quando Roseana fala do Estado por ela administrado. Segundo a governadora e suas pesquisas, todos os indicadores sociais maranhenses melhoraram durante seu mandato. Sem dúvida, o telespectador menos atento e, portanto, mais influenciável, cogitaria em abandonar a sua atual unidade federativa e mudar-se para o Maranhão, onde tudo são flores e alegria. Seguindo o rastro da "lógica" de Roseana, somos forçados a acreditar que os maranhenses são as criaturas mais felizes deste planeta.
Os Sarneys, diga-se de passagem, detêm os principais meios de comunicação daquele local, como o Estado do Maranhão - maior jornal -, o principal sistema estadual de rádio e televisão, além do Sistema Mirante e Mirante Sat, repetidores do sinal da Globo. Por isso, não é de se estranhar a alta popularidade de Roseana nos índices das pesquisas.
Porém, a verdade diverge da tela eleitoral proposta pelos marqueteiros do PFL. O jornalista e escritor Mauro Chaves teve publicado um artigo seu no Estado de São Paulo, no qual aponta dados assombrosos sobre o Maranhão, mostrando que este detém, desde 1985, o pior PIB per capita do País e que 62,4% da população vive com menos de R$ 80,00 por mês, ou seja, abaixo da linha de miséria(FGV). E, como se não bastasse, nos dois mandatos de Roseana Sarney, segundo o IBGE, o quadro piorou, pois o número de famílias que vivem com meio salário mínimo aumentou em 37%, enquanto no restante do País houve redução de 22%. Sob a tutela de Roseana, houve aumento da mortalidade infantil e da evasão escolar no Estado, dados também atestados pelo IBGE. O índice de Desenvolvimento Humano (IDH-ONU) do Maranhão está no mesmo nível de pauperismo de países como Gana e Congo. Saliente-se que 39,8% das casas não têm banheiro ou sanitário.
Diante desse quadro, torna-se fácil perceber que o Maranhão mostrado nos programas eleitorais da filha de José Sarney existe apenas na Utopia , palavra que, como já foi dito, em grego significa: "em lugar nenhum".
Pablo Rodrigues
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