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Textos_Religiosos-->Aconselhamento: Crise de Suicídio 281101 -- 01/02/2005 - 03:15 (Rodrigo Moreira Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Rodrigo Moreira Martins; Helcio Passos



EXERCÍCIOS DE ACONSELHAMENTO PASTORAL

Poimênica e Aconselhamento em Casos de Crise de Suicídio

(Relatório de Exercício Prático)

INTRODUÇÃO



A propósito do título da disciplina, este trabalho tem como objetivo final o aconselhamento pastoral. Com isso, explicita-se a égide pastoral aliada às ferramentas da psicologia.

O exercício é desenvolvido a partir de uma sistematização dos dados colhidos na exposição da teoria e em simulações realizados em sala de aula; seguido de análises pessoais, de forma dinâmica, não-linear. A cada momento específico, há de se procurar desenvolver a proposição teórica de cada etapa, seguindo para o teste em si, e uma observação dos resultados obtidos. Trabalhando, assim, de forma paralela, a teoria com a prática.

Certamente, podemos esperar por limitações quanto ao alcance da tarefa. Contudo, a exposição e análise dos dados, ainda que de maneira incipiente, deverá mostrar marcas das personalidades envolvidas. Neste sentido, tanto as evidencias quanto as “omissões” serão igualmente reveladoras. O que não exclui a intenção última de máxima coerência, agindo com honestidade e sinceridade; buscando, assim, um real tratamento de questão por demais relevante.






1 EMBASAMENTO TEÓRICO


O exercício realizado foi formulado tendo por base a teoria de Howard J. Clinebell, a qual fazemos referência, de forma sucinta, abaixo.


1.1 Sinopse da Teoria


Clinebell trata da questão do aconselhamento de pessoas em Crise de Suicídio aliado a questão de perda pessoal, de pesar. A afirmação mais contundente e preocupante é a que: “pessoas propensas a suicídio dirigem-se com maior probabilidade a clérigos que a qualquer outra profissão, excetuando médicos. Mesmo assim, muitos pastores são menos capazes de reconhecer a letalidade suicida que outras profissões de ajuda”.

Esta constatação nos faz admitir que embora conheçamos algumas técnicas, de forma muito rasa, estamos diante de um enorme desafio dentro do trabalho de aconselhamento pastoral. Muito mais, em se tratando de estudantes que pouco conhecem da realidade do aconselhamento. Porém, neste exercício estaremos encarando este desafio com a proposta de veracidade. Simulando com o máximo de emoção que se possa colocar num exercício desta natureza.

Procuraremos, dentro dos limites do exercício, seguir a proposta de Clinebell de como reagir diante de crises suicidas: 1) reconhecer a propensão ao suicídio e encaminhar quando perceber a necessidade de ajuda profissional habilitada.

Algumas pistas que o autor fornece merecem destaque: a) o suicídio raramente é um ato repentino; b) toda ameaça de suicídio deve ser levada a sério em especial os casos onde há caracterização de depressão; c) casos de perdas muitos significativas; d) pessoas com distúrbios psicológicos e doenças crônicas.

A terapia terá efeito positivo a medida que, pela comunicação, se dissolver a interação destrutiva que envolve o aconselhando e contribui para o comportamento suicida.



1.2 Observações


Ao vivenciarmos a experiência de aconselhamento de pessoas com crise de suicídio, utilizaremos a técnica da “resposta compreensiva”. Tentando conciliar a técnica com as orientações especificas de Clinebell.

Para que possamos atingir o objetivo do exercício, estaremos trabalhando um caso fictício; não impingindo qualquer julgamento de valor às questões levantadas.




2 TRABALHANDO A TEORIA


2.1 Aconselhando Um Suicida


Trabalhamos a teoria com um caso hipotético, onde o papel de aconselhando é representado pelo Rodrigo e o de aconselhador pelo Hélcio.

O caso trata-se de um aconselhando que procura o pastor, em seu gabinete pastoral, e inicia sua conversa falando diretamente da sua intenção de suicídio. Para facilitar, identificamos o aconselhando com a letra S, e o aconselhador com a letra P.


Após as formalidades dos cumprimentos, ainda que frios e rápidos, marcados pela ansiedade, inicia-se o diálogo. Na intenção de transcrever aqui um pouco da emoção vivida na dramatização, utilizamos reticências para os momentos em que a fala é mais demorada, e assinalando as pausas maiores com a indicação de silêncio.


S – Sr. pastor estou com um problema e vim ver se o Sr. pode me ajudar... na verdade, gostaria apenas de conversar com alguém sobre o assunto...

P – Você está com um problema...

S – Sim... não suporto mais a vida... o que o Sr. acha???

P – Você me disse que... está com problemas e não suporta mais a vida...

S – E por isso penso em acabar logo com isso... teologicamente tem algo de ruim?

P – Fale sobre seu pensamento de acabar com isso...

S – Simplesmente terminar... não quero mais sofrer... mas me preocupo com esse Deus que todo mundo fala... e também com minha família.. ou seja, é só por essas coisas que ainda estou aqui...

P – Você me falou de... sofrimento e família...

S – Sim... mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.... já disse que a família é a única coisa que mantém minha estada aqui... e só não abrevio minha vida logo porque me sinto preso às obrigações e sentimentos familiares... esse é o problema...

[Obs. do Pastor: Aqui vejo que o aconselhando traz algumas questões: sentimento de opressão ligado às obrigações, responsabilidades; de alguma forma, a questão fundamental do suicídio esbarra nesta área]

P – Fale-me sobre esse sentimento de obrigação...

S - É uma espécie de peso... que não me deixa em paz.. nem comigo mesmo... poxa... eu queira poder tomar minhas próprias decisões... e fico preso... às outras pessoas... se sou descontente com a vida... porque não posso terminar com isso???

P – Continue...

S – A crise é essa... e por isso vim ver se o Sr. ajuda... lembra da questão teológica??? Será que também Deus tem algo pra me prender??? Porque na vida... não há mais sentido.. e faz tempo... só vivo em função dos outros... e não por mim... e gostaria que fosse diferente... mas nem tudo pode ser como a gente quer... e não consigo ver nada que me prenda, que me dê sentido nesta existência... somente pelos outros é que vivo...

[Obs. do Pastor: Percebo que a palavra continue neste caso funcionou bem, mas trouxe, ou afirmou ainda mais outros assuntos]

P – Você me disse... mais de uma vez... que vive em função dos outros... e isso parece ser um peso para você...

S – É realmente isso...

(houve silencio...)

S – E você não diz nada pastor?

P – O que você gostaria de ouvir?

S – Acho que não sei... talvez que poderia ir em paz...

P – É isso que você procura?

S – Sim... não agüento mais essa vida... já disse... o problema é que não consigo parar de pensar nos outros... porque eles são assim? Tão egoístas... ninguém respeita o outro... só pensa em si mesmo... acho que nem Deus tem esse respeito... ou seria os homens que interpretam de uma maneira errada... o tão falado amor de Deus... tenho certeza que Ele vendo minha situação me deixaria em paz...

(houve silencio...)

[Obs. do Pastor: É notável a tentação que se tem de entrar na questão teológica, ou ainda, diante de uma certa sensação de impotência, dar um conselho]

S – Pastor... não quero incomodá-lo mais.. parece que o Sr. está ficando preocupado demais... talvez seja melhor eu ir embora.... o que o Sr. acha?

P – Mais uma vez... você está preocupado com os outros...

S – Talvez seja porque eu sinta os outros...

P – O que você sente?

S – Sinto que as pessoas estão preocupadas... não sabem o rumo certo de suas vidas... e não podem me ajudar... querem simplesmente uma vida fútil... sem saber o porque de nada... parece que vivem para prender e tolher a vida dos outros... não as culpo por serem felizes. O problema é que eu não me sinto bem aqui... não sei dizer o que falta... mas reconheço que não estou bem... e já faz muito tempo que sinto isso... Entende?

[Obs. do Pastor: Creio que passamos por um momento critico do aconselhamento... cheguei a pensar que estava perdendo o aconselhando... mas vejo que ele retornou ao assunto... da sensação de opressão.. ou falta de liberdade]

P – Creio que posso entender... mas fale mais sobre seus sentimentos... descreva o que sente em relação aos outros...

S – Já disse... pastor... já disse... estou querendo me libertar dessa vida... e me sinto preso por causa do que sinto pelas outras pessoas e pelo que sinto delas por mim... mas isso não é suficiente para eu viver... é muito ruim aqui... como fazer isso de forma rápida e indolor???

[Obs. do Pastor: É a primeira vez em que o aconselhador mencionou de forma concreta a possibilidade de suicidar-se. Seguindo a proposta de Clinebell, de entrar aí, no concreto do caso, perguntei diretamente]

P – Você já pensou em como fazer...?

S – Ah... pensei em algumas maneiras... um tiro na boca seria bem rápido... mas li num artigo de espiritismo que a alma sofre, depois de mortes brutas... também pensei em algum tipo de droga... algo sonífero... mas não sei se seria eficaz... o que o Sr. sugere?

[Obs. do Pastor: Parece que o aconselhando ficou realmente surpreso com a postura do pastor, mas sua resposta e o tom de sua voz mudaram de uma voz oprimida, para um certo tom de ironia, principalmente na sua pergunta sobre a opinião do pastor... se não resolveu o caso, aparentemente suspendeu-se a tensão inicial]

O aconselhador sugeriu acabar com a sessão... encaminhando-o para um amigo especialista em caso de pessoas propensas a suicídio.



2.2 Observações ao Exercício


2.2.1 O ponto de vista do aconselhando


Diante da “Técnica da Reposta Compreensiva”: Como intérprete do suicida, não vi retorno algum da entrevista... cheguei a ficar irritado... não houve respostas, parecia que o pastor só queria que eu falasse mais e mais... mas não me apontava caminho algum. O suicídio era iminente, e isso foi deixado bem claro. A causa principal do aconselhamento não era o suicídio em si... mas a crise diante das responsabilidades apresentadas pela sociedade à pessoa que vive num meio qualquer e não tem liberdade para a tomada de decisão sobre sua própria vida.

Acho que ninguém está preparado para a morte, por isso a grande dificuldade de apresentar soluções para situações difíceis como esta. É quase impossível admitir a decisão de não viver. Também não sei o que faria diante de tal situação.


2.2.2 O ponto de vista do aconselhador


Diante da “Técnica da Reposta Compreensiva”: Não é fácil assumir a posição de aconselhador. No caso de pessoas com crise de suicídio o peso de tal papel é ainda maior. Algumas reações pessoais são facilmente detectadas: a ansiedade do início, o desejo de dar uma resposta que diminua a tensão e a ansiedade. Mas com as experiências de outros exercícios, em sala de aula, estes primeiros obstáculos tornam-se contornáveis.

A dificuldade maior é a de encarar a sensação de impotência e uma certa culpa que vai surgindo cada vez em que se é surpreendido, ou não correspondido, ou mesmo incompreendido. Evidente que a maior parte destas sensações não são do aconselhando, mas do próprio aconselhador.

Percebo que seguir a proposta de Clinebell, de entrar concretamente no caso, perguntando dos aspectos suicidas do comportamento, sobre os planos e os meios que pretende utilizar, parece ser algo muito arriscado. Mas sinto que neste caso serviu como paliativo, provocando até mesmo certa ironia do aconselhando, o que pode parecer sórdido, entretanto possibilitou conversar sobre um possível encaminhamento.





CONCLUSÃO


Após a realização, transcrição e leitura dos exercícios que serviram de base para a elaboração dos dois relatórios, pude perceber para que lado apontam as mudanças.

No primeiro relatório, surge a percepção da necessidade de mudanças, algumas delas já estão ocorrendo, mas ainda sem uma compreensão adequada do processo em que tais mudanças estão inseridas. Esta consciência vai emergir somente no período do segundo relatório. No entanto, pode-se dizer que já se havia instaurado o processo de amadurecimento e está em destaque.

No segundo relatório, o pano-de-fundo da vocação profissional perpassou quase que todos os exercícios. Somente no transcorrer da elaboração deste relatório foi possível notar que, de fato, a vocação tem enorme afinidade com a necessidade de se reparar tudo o que ficou quebrado no inconsciente. Assim, pode-se dizer que o processo de amadurecimento, desencadeado anteriormente, está agora sob uma visão crítica e profunda do auto-exame.

Creio que o esperado, como resultado de um trabalho que proporcionou ampla avaliação, foi atingido: o autoconhecimento. Evidente, que não se pretende dizer com isto que nada mais resta a se investigar; ao contrário, são tantas as possibilidades de ler e reler os dados aqui transcritos, que fica difícil elaborar uma conclusão que contemple tal amplitude. Certamente, se recomeçasse a uma revisão neste momento, tudo o que foi elaborado serve de base para uma nova experiência de auto-reflexão.

BIBLIOGRAFIA



CLINEBELL, Howard J. Aconselhamento Pastoral: Modelo centrado em libertação e crescimento. São Paulo: Paulinas; São Leopoldo: Sinodal, 1987.

FADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da Personalidade. São Paulo: Harba, 1986.

MÜLLER, Mary Stela; CORNELSEN, Julce Mary. Normas e Padrões para Teses, Dissertações e Monografias. 2.ed. Londrina: Ed. UEL, 1999.

PATTERSON/EISENBERG. O processo de Aconselhamento. 2ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 1995.

COLLINS, Gary. Aconselhamento Cristão. São Paulo: Vida Nova, 1990.

ADANS, Jay E. O Manual do Conselheiro Cristão. São Paulo: Ed. Fiel, 1982.

BRAGHIROLLI, Elaine Maria. Psicologia Geral. Petrópolis – SP: Vozes, 1998
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