O PROTESTO DO ANARQUISTA
(Hull de La Fuente)
Trinnnnn!!!!
Alô!
Tio Pepe! Tudo bem?
Tu sabes bem, que não!
O que houve? Por que o senhor está zangado?
Ainda perguntas? Quantas vezes eu te pedi pra parar de me chamar de “desbocado”?
Mas tio! O senhor não controla sua língua e ...
Que tio que nada! Vou te deserdar! Quantas vezes eu vou ter de te repetir que sou “ANARQUISTA”, e não “desbocado”?
Tá bom, tio! Não vou mais chama-lo de “desbocado”.
É muito bom que tu faças isto, ou vou te deserdar! Está entendido? Ah”! E tem mais! Avisa lá pra teus leitores que doravante eu serei apenas “tio Pepe”!
Tio! O senhor é algo mais que um simples “tio Pepe”! Eu preciso de uma figura de linguagem...
Mas eu não quero essa antonomásia! Afinal eu sou um sujeito de inúmeras qualidades , só tu que não vês...
Dito isto, tio Pepe desligou e me deixou com o telefone colado à orelha, pensativa e preocupada, pois meu tio é a pessoa mais adorável, louca, romântica, doce e sarcástica que eu conheço. Ele é uma mistura encantadora de qualidades e defeitos. Ele diz o que quer e na hora que quer, não é nem um pouco organizado, vive duro, mora de favor na casa da irmã. Em suma, não tem onde cair morto. Mas ameaçou deserdar-me, e isto me apavora. Eu queria tanto herdar sua mente brilhante, sua visão do mundo, sua alma linda e engraçada. Ele prometeu deixar-me tudo isto, por escrito. Tio Pepe é a ovelha negra mais branca que existe. É indefeso como uma criança, mas adora defender os outros, bem, pelo menos ele tenta. Agora não quer que eu o chame de “desbocado”, pensando bem, ele não diz palavrões, mas diz coisas picantes, se bem que com muita graça.
Ah! Tio Pepe! Como vou chamá-lo agora? Poeta anarquista? Não soa bem, aliás, poesia e anarquia até que rima, mas não é isto o que interessa. Tio, o senhor me deixou em dificuldades. Enquanto isso vou continuar publicando suas tiradas, depositando os créditos ao querido tio Pepe, o anarquista, vale?
|