O uso do fogo para modificar uma disposição natural sobre a terra é prática antiga. Os índios já utilizavam a coivara objetivando livrar-se da vegetação existente numa área destinada ao plantio.
O desenvolvimento industrial moderno não mudou essa atitude incendiária. Apesar do progresso de toda engenharia mecânica, a modernidade ainda não chegou aos remotos grotões subdesenvolvidos.
Cidades inteiras submetem-se à fumaça da queima feita nos canaviais. Os serviços públicos de saúde anotam o aumento da incidência das afecções pulmonares, mas mesmo assim os responsáveis se desculpam de um jeito ou de outro.
Observa-se que são pequenos os grupos que auferem lucros com a fumaça. É mais econômico cortar a cana depois de queimada do que colhe-la crua. As partículas sólidas expelidas na combustão inevitavelmente se depositarão no aparelho respiratório das crianças e idosos.
Muitas leis foram aprovadas por câmaras municipais e assembléias legislativas proibindo a prática do fogo nos canaviais. Mas os resultados têm sido pífios.
As usinas multadas por descumprimento às regras não impedem o seguimento do processo industrial obsoleto.
Usineiros preferem contratar a mão de obra excedente, e portanto barata, do que investir na aquisição de equipamento substitutivo. Justificam os defensores de tal prática com a necessidade do trabalho do contingente na reserva.
Apesar das mortes ocorridas por múltiplos fatores nas plantações, esse fenômeno não foi argumento impeditivo ou moderador do uso do trabalho muscular para o corte da cana.
Os governos estaduais tentam interferir moderando os atritos existentes entre os queimadores e o resto das populações aplicando algumas normas restritivas. Porém as atitudes governamentais limitam-se quando esbarram na necessidade do aporte de capital para a conquista dos cargos de mando.
Os ganhadores com esses status são os laboratórios fabricantes de medicação pneumológica, usineiros, e todos os políticos interessados na manutenção da ignorância das grandes massas industriais de reserva.
As eleições de primeiro de outubro se aproximam. É a oportunidade que a população tem para reprovar as atitudes criminosas dos inconseqüentes.