Pode parecer excessivamente nostálgico, mas nada me dá mais prazer do que ver álbuns de fotografia.
Pode-se dizer que minha vida, ou a melhor parte dela, foi um dia registrada em retratos.
Álbum de viagens, de casamento, de nascimento dos meus três filhos, dos batizados, dos aniversários...tudo organizado de uma maneira sistematicamente cronológica.
O amarelado das fotos define bem essa cronologia. Nos faz reviver cada um dos momentos captados pela lente da câmera.
Todo procedimento para registro dos momentos mais marcantes era consideravelmente excitante. Desde a pose para a foto até a expectativa de ver o filme revelado.. a emoção de buscar as fotos, de relembrar, de reviver cada momento.
Hoje as câmeras digitais são mais práticas, você “deleta” as fotos que não são boas e repete as poses até a perfeição...uma perfeição sem qualquer traço de espontaneidade.
As fotos são guardadas num CD...com uma qualidade melhor e com, no caso de alguns programas, possibilidade até de corrigir imperfeições...tudo exageradamente perfeito, até beirando a irrealidade.
Com o advento da câmera digital já perdemos aniversários, passeios...e não sobrou nem o negativo. Aqueles momentos...nunca mais...vão ficar apenas na lembrança (se conseguirmos lembrar)
O mega show dos Rolling Stones também. O medo de ter a máquina roubada nos fez desistir de fotografar...daqueles dias no Rio, somente uma camiseta com a frase “eu fui”.
É esse o preço da tecnologia.
Nos resta apenas, enquanto não escaneiam nossos álbuns antigos, retirando o amarelado das fotos e corrigindo as imperfeições, nos deliciar num passado em que podíamos ver retratados momentos realmente vividos, rir de nossas próprias caras, continuar procurando um lugar para guardar negativos e, quando a foto tiver muito feia ainda ficar com medo do azar de rasgá-la.
