Sonhar
Entra pela janela entreaberta uma brisa discretíssima.
A lua lembra o olhar de um pirata sonolento.
Alguém, na rua, passou correndo,
o eco dos seus passos perderam-se na noite...
Um cão latiu...
Um carro passou...
A televisão emudeceu...
Meus pés, espremidos no sapato, suplicam descanso.
Minhas pernas doem,
minhas costas doem,
meus olhos pesam muitas toneladas.
Por todo o corpo um formigamento,
só a mão resiste e
escreve.
Escreve, escrava, escreve.
Voluntarioso, inconseqüente,
suicida,
o velho coração ordena
esmurrando o peito sôfrego,
na mesma cantiga,
com seu ritmo dissílabo,
como um trem percorrendo os descaminhos da minha alma.
A mente confusa,
a mão nervosa,
o coração inclemente
e além,
muito além da consciência,
a poesia se transforma em música,
a palavra se transforma em essência
no transporte onírico do sono.
Dante Gatto
gattod@terra.com.br
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