Tristeza
I
Tudo se tornou irremediável...
definitivo.
Os minutos arrastam-se lentamente
e o sono não vem me socorrer.
A lua é uma esfera fria,
não consola nem enternece.
Ouvi um tiro na madrugada vazia,
mas meu coração continua pulsando
num ritmo sôfrego...
insuportável.
A porta entreaberta é um convite,
mas eu sei, há muito,
que a noite já não me quer.
Nada acontece.
Ninguém romperia casa adentro
para me proporcionar, um segundo sequer,
do mais completo (e absurdo) lenitivo.
II
Ausência absorvida...
Dor assimilada...
Solidão incrustada...
...
Uma forma luminosa se insinua
junto a linha do horizonte.
Uma brisa perpassa...
III
Ah... Tristeza! Afinal quem diria?
Bruxa-musa, anjo vampiro, fera!
Revestida de amor e de quimera,
encantada nas asas da poesia.
Ah... Tristeza! Esta noite vazia
é toda nossa, louca violinista!
Num frenético arroubo masoquista,
beijo a boca feroz que me mordia.
O salto se faz, por fim, deste inferno.
As velas postas ao vento bandido.
Árvore caída, machado partido,
lambe o chão ferido o sopro do eterno.
IV
Respiro um segundo de eternidade
e busco capturar a absconsa beleza
que nascerá deste momento-tristeza
como um verme,
uma flor,
uma verdade.
Dante Gatto
gattod@terra.com.br
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