Cai a chuva, triste e vagarosa,
Numa estranha preguiça, mas copiosa.
Assisto à úmida dança das gotas
Tal qual um baile, de lindas garotas.
Me estremece o corpo quando imagino
A distância que cada pingo peregrino
Tem de percorrer nesta queda vertiginosa
Para lavar a alma de terra porosa.
Me encanta esta chuva melancólica
Que torna a rotina, assim, bucólica,
Dos que correm, apressados, para que a chuva
Não molhe-os.
Penso comigo se não estou iludido:
Molha a paisagem a chuva que tem caído,
Ou são apenas lágrimas
Que me molham os olhos? |