Parece, o povo brasileiro resolveu abrir os olhos. O cenário político pré-eleitoral desenhava-se de tal modo irreversível, no que diz respeito à reeleição de Luis Inácio Lula da Silva, que me fazia acreditar numa hipnose coletiva. Nos últimos três anos e nove meses vimos escândalos terríveis abrindo uma profunda chaga na política brasileira.
A última gestão do Congresso Nacional quase colocou abaixo o desenvolvimento republicano e expôs ao risco a democracia brasileira ainda frágil. Se por um lado conseguimos, através do voto, fazer com o Presidente da República descesse de seu pedestal, construído com a arrogância e a prepotência de não necessitar prestar contas aos seus eleitores, por outro lado demonstrou que ainda precisamos evoluir muito até que seja atingido um nível de consciência política e de ética sustentável.
Digo isso embasado nos resultados de candidatos a senador, deputado estadual e federal que são marcados pelo infame selo da corrupção. Só para se ter uma idéia São Paulo elegeu Paulo Maluf com mais de 790 mil votos, João Paulo Cunha e Palocci, com mais de 170 mil votos, sem falar em Clodovil cuja experiência política se reduz à nada e que recebeu uma expressiva votação no maior Estado da Nação. Em outros Estados, tivemos a eleição de Collor de Mello com mais de 500 mil votos para o Senado. Outro exemplo é o de Valdemar da Costa Neto que garantiu seu retorno ao Congresso Nacional.São vários casos que não cabe aqui elencá-los.
Verdadeiramente é um paradoxo!
Se para o Presidente Lula não ir aos debates, principalmente o último e o fator compra do dossiê praticamente decretou a morte da vitória em primeiro turno, forçando a abertura de debates e explicações para a nação; para os candidatos ao Senado e às Câmaras estaduais e federal houve o favorecimento do tempo e do foco da discussão. Os cargos majoritários polarizaram as discussões e propiciou que, na surdina, candidatos acusados de corrupção voltassem aos mandatos.
Cabe-nos, neste momento de ressaca eleitoral e independentemente de quem se votou no primeiro turno, buscar clarificar as idéias. Entendo que não se deve fixar em idéias pré-concebidas e/ou ideológicas para que se possa realizar uma avaliação isenta e identificar aquele candidato que verdadeiramente traga propostas sérias para o desenvolvimento sustentável e concreto do País.
É preciso lembrar que o Brasil foi esquecido nestas eleições. Não houve um só candidato (à exceção de Cristovão Buarque), que tenha feito o eleitor refletir sobre questões reais e sérias para o fortalecimento da democracia e do desenvolvimento do povo brasileiro.
Cada qual, em seu meio de convivência, deve trazer esta discussão à tona. Exija de seu candidato esclarecimentos, quando necessário, e programa de governo. Não se perca nos palavrórios indiscriminados criados apenas para confundir.