I
Busca o infinito céu.
Busco o infinito átomo.
Mas qual grandeza é maior
que o próprio infinito, a existência?
Ora, Walquíria, a beleza da vida
nasce de uma fonte microscópica: o gene!
As centelhas são a gênese da Grande Explosão.
Não queira comparar
o que não tem comparação...
A natureza do amor é o fogo
– que não tem forma, não tem
paredes ou grades
a lhe conter.
II
A brasa é fogo dormente.
A centelha é fogo-semente
da explosão.
Mas, tão poderosa e livre,
basta-lhe a falta de ar
para não (se) queimar.
III
A vida é toda feita de lampejos.
Assim são os dias, sucessão de momentos
e noites:
são como um filme
projetado lentamente.
Assim são pessoas,
flashes da civilização.
É uma faísca a paixão,
semente do amor,
a flor do meu desejo.
IV
Não clame por tanta luz!
Faíscas aleatórias
formam o facho que conduz
o livro da nossa história.
Não me prenda por roubar,
no velho hotel, seus momentos,
pois já sou um prisioneiro
da luz do seu pensamento.
Sim, a paixão é luz, Wal!
Mas é luz de uma fogueira:
explosão fenomenal,
intensa, mas... passageira.
Minha paixão! não se esqueça
que a paixão é vendaval
– talvez necessário mal
para que o amor floresça.
O amor, matéria errante,
se condensa – o inteiro espaço
cabe inteiro, aconchegante
no brilho do nosso abraço.
Wal, o amor é como o fogo
cuja maior propriedade
é não pertencer... é jogo
de acender a liberdade.
Eu também digo, gritando:
sim, Walquíria, é com seu grito
que eu irei cantarolando
rumo às bordas do infinito
com minha tez desinibida
e os meus versos tão chinfrins
colher a luz emitida
do seu corpo de marfim
descobrir que o fim da tarde
é a porta do firmamento...
que o infinito, a eternidade
são a soma de momentos
e dizer que este momento
ruma para a eternidade
e que o vento é o alimento
da brasa que nele arde.
Sim, Walquíria, hei de dizer
que lhe quero por momentos
assim, no plural... um vento
bom... que nunca hei de esquecer.
Jonathan Guimarães
23/6/02
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