Não poderia, mesmo que quisesse, me calar diante dos resultados finais das eleições de 2006. Psicologicamente tento compreender o que motiva tantas pessoas se darem ao trabalho de, num domingo e mesmo que obrigadas pela Lei eleitoral, reelegerem candidatos envolvidos em escândalos como o famigerado mensalão e com a dita máfia das sanguessugas.
Vejamos: a câmara dos deputados vai receber novamente, totalmente isentos, como se absolvidos o fossem os senhores - Valdemar da Costa Neto (PL-SP), Sandro Mabel (PL-GO), João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Vadão Gomes (PP-SP).
Das sanguessugas reeleitas temos: Pedro Henry (PP-MT) novamente, pois envolvido estava com os mensaleiros; Wellington Fagundes (PL-MT), Wellington Roberto (PL-PB), Vanderlei Assis (PP-SP), João Magalhães (PMDB-MG) e Marcondes Gadelha (PSB-PB). Todos sob suspeição de envolvimento com corrupção.
Este é um fato, no mínimo curioso, pois demonstra que o eleitorado brasileiro é motivado por questões passionais e completamente dominado pelo “sagrado” poder da mídia em todas as suas áreas de atuação.
De um lado o eleitor abriu a possibilidade de um segundo turno para o cargo majoritário do executivo nacional e por outro ressuscita, dá nova oportunidade a parlamentares cujo projeto de poder envolve apenas a busca pelo ganho fácil e em benefício próprio.
Em alguns casos o eleitor fez o voto do “tanto faz”. Não se ruborizou ao votar em Paulo Maluf (lembra do rouba, mas faz?), deu ao Clodovil mais de meio milhão de votos e para completar trouxe à cena política, como senador, o senhor ex-presidente da república Fernando Collor de Mello. O voto do “tanto faz” é um reflexo da descrença popular nas instituições políticas e dá um recado nefasto aos políticos de que, absurdo, ainda há espaço para mais corrupção.
Esta é uma realidade infeliz do nosso cenário e reflete a despolitização da população, graças, ainda, aos anos da ditadura e, na seqüência dos desastres governamentais dos últimos 16 anos na qual a educação nunca teve um esboço de prioridade. Nem com FHC, nem com Lula.
Continuamos uma nação dependente. Dependente do capital externo, das ações caritativas de governantes corruptos, das informações distorcidas da mídia (sempre tendenciosa), etc. A dependência reduz, ainda mais, a auto-estima da população. Uma nação com a auto-estima rebaixada se caracteriza pelo “vitimismo”, pela ausência de vontade e principalmente pela falta de amor próprio. É preciso, neste segundo turno das eleições para a presidência da república, gerar discussões profundas sobre os principais temas que afligem o País em suas mais variadas instâncias. Que sejam feitas propostas concretas para a educação, para o desenvolvimento econômico, para a geração de oportunidades de trabalho, para fortalecer o sistema de saúde e, principalmente, tirar a população de alta e baixa renda de seu comodismo alienante. É impossível a um País, que deseja se desenvolver, manter a disparidade social que ainda permeia pelo Brasil.
Finalmente, é preciso extinguir o voto do “tanto faz”. Este paradoxo – dar uma nova possibilidade de discussão para a Presidência da República e colocar no Congresso Nacional candidatos envolvidos em corrupção ou sem vivência política – precisa ter fim.
Paulo Araújo de Lima |
