O LEITO CONJUGAL
Há dias surpreendo-me ruminando este versículo da Carta aos Hebreus:"O leito conjugal seja sem mancha"(Hb 13,4). Da mesma maneira que o altar é sem mancha, o leito nupcial seja sem mancha. Para alguns parecerá absurda e sem propósito esta comparação, mas este é o sentimento que me vem ao coração quando descruzo os braços, arregaço as mangas e disponho-me a sentar diante do computador para refletir sobre este anseio do Senhor.
Vem-me à memória o dia em que celebramos o nosso matrimônio. Sim, porque somos nós que o celebramos. O Sacerdote ou o Diácono é a testemunha oficial da Igreja que conduz o ato ritual, litúrgico; nós, homem e mulher, somos os celebrantes. É o único Sacramento que se permite ser assim. E naquele dia, de mãos dadas e olhando nos olhos um do outro, prometemos fidelidade até que a morte nos separe. Não até que a morte nos separasse, mas até que a morte nos separe. Porque aquela aliança selada diante de Deus e selçada por Ele há dias, meses ou anos, se faz presente agora e em todos os momentos de nossa vida. É uma aliança sempre atual e atualizada que se renova a cada gesto de amor, a cada ato conjugal, e se complementa na sua indissolubilidade."Não separe pois o homem o que Deus uniu"(Mc 10,9).
FIDELIDADE deriva de fides., palavra latina que significa fé, dar crédito (acreditar), confiar. A confiança recíproca desencadeia dentro de cada um a segurança e a firmeza necessárias para que jamais esta aliança seja rompida. Quando a fidelidade, porém, é vilipendiada pelos apelos gritantes da carne que anseia pelo pecado, e um dos dois cai, ou ambos se precipitam despenhadeiro abaixo, rompe-se indelevelmente a aliança e, como conseqüência, mancha-se o leito conjugal. É preciso estarmos sempre atentos. São Paulo, há dois mil anos, gritava para os gálatas e hoje grita para nós:"Eu vos exorto para que sempre vos deixeis guiar pelo Espírito, e nunca satisfaçais o que deseja uma vida carnal. Pois o que a carne deseja é contra o Espírito, e o que o Espírito deseja é contra a carne: são o oposto um do outro, e por isso nem sempre fazeis o que gostaríeis de fazer. Se, porém, sois conduzidos pelo Espírito, então não estais sob o jugo da Lei"(Gl 5,16-18). Necessário se faz que gravemos no mais profundo do nosso ser, o grito de alerta de Jesus no Getsêmani:"Vigiai e orai para não cairdes em tentação; pois o espírito está preparado, mas a carne é fraca"(Mt 26,41).
Que o leito conjugal seja sem mancha! É o grito, é o apelo do escritor da Carta aos Hebreus, é o grito do próprio Deus para nós hoje, aqui e agora. Porque o leito conjugal, onde um homem e uma mulher vinculados pelos sagrados laços do Matrimônio, se doam totalmente um ao outro, é o altar da celebração do amor. Arrisco-me a afirmar que o altar e o leito conjugal encontram-se no mesmo nível de sacralidade perante Deus. Senão vejamos:
No altar, o sacerdote celebra a Eucaristia;
no leito conjugal o casal celebra o Matrimônio.
No altar, o sacerdote oferece o pão e o vinho;
no leito conjugal o casal faz a oferta do corpo, da alma e do coração.
No altar, pela ação do Espírito Santo, o pão e o vinho se tornam o corpo e o sangue de Jesus;
no leito conjugal, pelo mesmo Espírito, o casal se faz uma só carne.
No altar, atualiza-se o mistério da Salvação;
no leito conjugal realiza-se o mistério da vida.
No altar, alimenta-se a fé;
no leito conjugal vive-se o amor.
E é nele que se realiza uma oferta agradável a Deus, e se cumpre o que o Senhor determinou no princípio:"...serão uma só carne"(Gn 2,24). Os dois tornam-se um só. É tão sério que, se um está manchado, transmite a mancha ao outro. "Não sabeis que aquele que se une a uma prostituída torna-se com ela um só corpo?"(1Cor 6,16). O leito conjugal é o altar onde os esposos oferecem mutuamente o dom de si, numa entrega recíproca total, sob as bênçãos de Deus. E aí se cumpre maravilhosamente a palavra de Gn 1,31a:"E Deus viu tudo quanto havia feito e achou que era muito bom".
Que o ato conjugal sobre um leito conjugal puro seja a mais pura expressão de louvor a Deus. Vivamos este louvor em nossos corpos intensamente, sabendo que este relacionamento de amor é fonte de alegria e prazer.
Concluo, fazendo minhas as palavras do papa Pio XII, num discurso proferido a 29 de outubro de 1951:"O próprio Criador... estabeleceu que nesta função(i.é, de geração) os esposos sentissem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal em procurar este prazer e em gozá-lo. Eles aceitam o que o Criador lhes destinou. Contudo, os esposos devem saber manter-se nos limites de uma moderação justa". Que o leito conjugal seja sem mancha!
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