Na sala de estar a menina de 12 anos assiste deitada no sofá, o intervalo comercial. Seu cãozinho de estimação repousa sobre a jovem. Seus dedos o acariciam bem despreocupados. Eles vão e vêm, roçando ligeiros sobre o corpo felpudo do animal que se deleita quase em transe.
O cãozinho divaga à sua maneira; olhos estatelados, boquiaberto. A cabeça parece flutuar sobre o pescoço que, como um barco ancorado, balança no ritmo da água. O olhar é preguiçoso, fixo no nada. A respiração ofegante chacoalha a língua que balança.
Um dedo sombrio afaga com mais ênfase. O cão acorda e vê uma luz na tela. Os próximos dedos que alisam o bicho deslizam ríspidos. A pele é beliscada. O cão chora. Duas mão agarram o cachorro que agora é erguido com violência. Permanece por 1 segundo suspenso no ar pelo couro. Sua expressão é desesperada.
Num golpe súbito é lançado contra o sofá de costas. É agarrado pelo pescoço como que prestes a ser estrangulado. Sua expressão espelha a morte.
_ Você pensa que a vida é só carinho? Hein? Hein? Hein? Você pensa que é vida é só carinho, é? _ grita a menina encarando o ser inferior.
Em seguida, levanta-se e vai rumo à cozinha. O cãozinho abana o rabinho e a acompanha contente.