Um cavaleiro montado num cavalo,
um cavalo chamado Quatro Tempos,
acena para um reflexo estático na janela.
Aranhas teceram teias no jardim das quatro portas.
O cavaleiro acena insistente, enquanto um disco
gira tocando uma canção qualquer.
O reflexo do que se foi e ainda será,
aproxima-se mais da janela:
o cavaleiro,
as aranhas,
um anjo caído brincando no quintal.
A poesia desse momento não sacia a fome,
não mata a sede do próprio rio.
O cavaleiro acena com um lenço
em forma de infância,
e o campo se pinta da cor das juventudes fugazes.
O anjo caído e descuidado
pisa nos canteiros de morangos.
O cavaleiro-capitão,
lobo aventureiro de todas a florestas,
senhor e herói dos mares, parte deixando
rastros no jardim e no campo
feitos de papel crepom.
Florestas e sonhos feitos de papel crepom.
O cavaleiro parte, pois percebe
que não era reflexo
aquilo que estava na janela.
Era, sim, um ser petrificado sem
coragem de abrir as próprias janelas,
fincadas nos punhos doloridos.
Um ser que não abria mais a boca,
porque tinha receio dos próprios olhos
refletidos no pequeno lago.
Um lago em forma de arco-íris.
(Editora Causas Próprias - Edição do Autor)
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