“A Terra era informe e vazia. No princípio Deus criou os céus... a terra... e, ardente de vida, fez surgir o homem”.
Quando Deus criou o homem, fez muito bem em determinar que a própria natureza humana surgisse com o dom de poder rir. Por certo Deus sabia quanto o “bicho homem” necessitaria usar o dom do riso para abrandar os momentos de crise que a própria ”inteligência” humana iria criar no decurso de sua existência.
O riso, dentre todas as revelações oriundas de nossos sentimentos talvez seja a mais extraordinária das manifestações que integram a estrutura humana. Nascêssemos sem a divina capacidade de rir e a nossa vida, sem graça, estaria fadada a permanecer no imutável caos que precedeu a formação do mundo.
No entanto, graças a Deus, rimos. Rimos muito. Rimos de tudo e de nada. Rimos do inesperado, dos outros e de nós mesmos. Rimos, mesmo à frente dos inúmeros e inevitáveis dissabores que esta surpreendente vida comumente nos apresenta. Até o pobre ri, quando teria antes muitos mais motivos para chorar. Nos casebres, nas favelas ou nos locais onde a miséria é fato incontestável, não se ouve apenas choro e lamento, mas muitas sinceras gargalhadas vindas do coração! Enfim, rimos! Rimos muito, sobretudo nós os brasileiros, graças a Deus!
O humorismo, a sátira, a gozação, são reflexos do caráter do povo brasileiro. Representam uma forma de desabafo contra as injustiças sociais; uma maneira poderosa de aliviar às pressões sofridas em nosso dia-a-dia. Daí as piadas, as anedotas e as fantásticas tiradas humorísticas que tanto distinguem o jeito de ser de nosso povo.
O riso faz parte do mais íntimo de nossa cultura. Contudo, há quem diga: “muito riso, pouco siso” — ao menos é o que preconiza este “discutível” e antigo dito popular. Entretanto, fizéssemos, entre nós brasileiros uma real pesquisa, chegaríamos a feliz e surpreendente conclusão: muito mais rimos do que choramos! Muito melhor assim, mesmo porque, “quem ri mais, vive melhor”; conseqüentemente, quem vive melhor, salvo os possíveis e inesperados acidentes no decurso de nossa vida, é redundante: vive muito mais!
Refletindo sobre esse riso “fácil”, sobre essa nossa fantástica capacidade de rirmos de quase tudo, de fazermos humor até perante aos mais diversos tipos de acontecimentos desprovidos de toda e qualquer graça, objetivei-me em querer homenagear esta nossa incrível capacidade de rir, tentar fazer despertar àqueles que ainda não se deram conta, que rir é o melhor remédio; se não evita totalmente as nossas inevitáveis adversidades ao menos as suaviza.
Contudo:
“É NECESSÁRIO MANTER A LÓGICA MESMO NA FANTASIA” “. (Millôr Fernandes)
GUIDO CARLOS PIVA
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