Lá Vem a Bola...
Noélia Borges
Lá Vem a Bola...
Rola e rola, de mão em mão.
Passa, vira, rola. Na lama se atola.
Vem um e chuta a tola roliça.
Prazer na disputa. É bola ou é puta?
Tonta – desce, sobe, rola – sem direção.
Vai, vem, rola no chão.
Quem é o dono da bola?
Seu moço, não tem dono não.
Ela é do mundo. Não tem coração.
Não tem sangue, nem veia.
Vive de mão em mão.
Quem quer essa bola
Roliça, redonda, rosa, rubra
De todas as cores?
Ela não sofre, não tem dores, não.
Perdida no mundo, não sabe o que quer –
Simples marionete, prá o que der e vier.
Vive do chute, da ironia,
Do prazer ou da raiva de quem faz a folia
De vê-la ora no chão ora no ar.
E assim ela vai se deixando driblar.
Mas eis que um dia, fere-lhe um espinho.
E a sua exuberância e poder de rolar
Foi se esvaindo num crescente murchar.
Onde está a bola?
A bola não mais rola – nem forma ela tem.
Está tão esquecida qual um vintém.
Ninguém mais a vê. Ninguém mais a quer.
Não mais a disputam. Perdeu seu encanto.
Pra que mais a luta?
E aquela que era a bola-energia
Já não tem mais cor, nem mais alegria.
Já vai lá prá as cinzas, prá o desconhecido.
Da vida, ela deixa a lembrança – talvez, a saudade
Da sua ousadia, do seu destemor.
De estar sempre ao lado do seu torcedor.
Prá o que der e vier.
Principalmente o prazer de acertar o GOL.
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