----- Tive na Ilha (*) três mainatos
----- Três negros pacatos e sensatos
----- A quem dei tudo quanto pude:
----- Vestuário, dinheiro, virtude
----- E sobretudo plena liberdade
----- Para andarem à vontade
----- Ao meu redor
----- Dei-lhes amor sério e puro
----- Inteligente e seguro
----- Sem nada nunca lhes impor.
----- Massama Quite, o cozinheiro
----- Dos três era sempre o primeiro
----- Que se me deparava matinal
----- Para servir-me o pequeno almoço
----- De branco dos pés ao pescoço
----- Muito esmerado e sempre jovial;
----- Era o mais velho e promotor do conselho
----- Aos outros dois amigos e companheiros
----- O Quintino Tabé e o Artur Seta
----- Especializados em roupa e recados
----- Sempre bem polidos e ataviados
----- Vaidosos de serem meus criados.
----- A cada qual e ao mesmo tempo
----- Ofereci-lhes relógio, rádio e motoreta
----- E ao Seta financiei-lhe o casamento...
----- Isto... Já se passou há muito tempo
----- Mas contínuo a ver tudo nitidamente
----- E a sentir como se fosse agora.
----- Quando me vi compelido a regressar
----- Salvo as malas, mulher e duas filhas
----- Deixei-lhes tudo com papel escrito
----- E hoje sem o saber acredito
----- Que foram ainda felizes por alguns meses
----- Enquanto o caos não abateu o paraíso
----- Que era a Ilha
----- Uma pequena maravilha de infinito.
----- No pequeno aeroporto
----- Antes da descolagem para a Beira
----- Os quatro olhavam para mim indecisos
----- Apagados... Mortos entre os sorrisos
----- De minhas filhas que não sabiam de nada.
----- O pequeno avião ganhou o céu
----- Enquanto pela rodinha eu espreitava
----- Os quatro... Sim os quatro...
----- O meu cão também lá estava
----- E pareceu-me que ladrava aflito
----- Como se fosse um grito
----- Que de lés a lés todo me tomava...
----- O meu cão chamava-se ZAP-ZAP...
----- Paz-Paz ao contrário!