Extermínio
A moça mastiga o chiclete
enquanto eu espero na fila
a moça mastiga o chiclete.
Enquanto analisa um cheque,
enquanto conta dinheiro,
sorrindo,
somando,
carimbando,
a moça mastiga o chiclete.
A moça tem olhos cinzentos,
São loiros seus cabelos,
castíssima sua pele,
seus dedos são longos,
suas mãos são tão ágeis,
suas roupas, impecáveis.
Sapatos...
que importa os sapatos se a moça não anda.
Seus dentes são brancos
de um branco cortante
que fere o chiclete.
A sala é enorme,
O vigia é discreto,
seus olhos são vivos,
os dentes são brancos,
a sala é tão branca,
os móveis, modernos,
o ar,
condicionado.
O gerente sorri
seus olhos são cinzas
seus dentes são brancos,
a sala e tão branca,
branca e condicionada,
branca e cortante.
A moça no caixa é bonita,
o banco tão branco é bonito,
o dinheiro escorre em seus dedos,
o chiclete escondido na boca,
eu escondido na fila.
O chiclete,
o dinheiro,
eu,
a fila...
O banco,
a moça,
a fila,
o chiclete.
A fila,
o banco,
eu,
o chiclete.
A moça e eu,
o banco e o chiclete.
O banco, eu, a moça, o chiclete, a boca...
Eu, o chiclete na boca da moça.
O chiclete, a moça, eu na boca do banco.
A moça acena e sorri,
sou o primeiro da fila:
a moça mastiga o chiclete,
o banco mastiga a minha vida.
Dante Gatto
UNEMAT
gattod@terra.com.br
|