19 de abril, Dia do índio!
Mas dizia o outro:
"Todo dia é dia de índio".
Todo dia é dia de todos.
Ou pelo menos deveria ser.
Os índios da Amazónia usam uma planta chamada ayahuasca para aprender a curar e ter contato com divindades. É a interpretação deles para a alucinação provocada pelo vegetal. Eles ficam vendo coisas que pra eles são manifestações divinas.
Nós, de cultura européia, vemos as mesmas coisas ao usar ervas como a maconha. Podemos chamar de divindades, também, mas metaforicamente. As viagens e imagens provocadas na e pela mente não deixam de ser um contato com algo transcendente, com o extra-consciente. Uma fuga do lógico eterno da consciência.
Os índios aprendem a curar com a ayahuasca. Nós também aprendemos a curar com a cannabis. Não a curar fisicamente, mas a "curar" "espiritualmente". Aquele que tem alguma experiência com alguma droga, algo de novo tem a ensinar depois, algo muda na sua mente e na sua vida. O efeito positivo, assim como o negativo, nunca se apaga. Há dois grandes livros para provar isso.
Timothy Leary era pesquisador da expansão da mente na Universidade de Harvard. Fez experiências com psilocibina e LSD nos anos 60 e constatou mudanças na maneira de enxergar a vida e o mundo após as addictions. Isso era tão assustador para autoridades e moralistas que Tim foi expulso de Harvard e depois perseguido até ser preso. A autobiografia do guru psicodélico chama-se Flashbacks. É manual para quem quer se aventurar com doce.
Aldous Huxley escreveu sobre a mescalina no ensaio The Doors of Perception (que deu nome à banda de Jim Morrison). No Brasil, ele foi editado junto com o ensaio Hell and Heaven. Por isso, As Portas da Percepção e Céu e Inferno. Huxley descreve as sensações das viagens e relaciona com fascínios conscientes que temos na vida. Ele era jornalista; não pode cursar medicina por causa de uma doença nos olhos que quase o cegou.
Voltando aos índios, eles tiveram de ir a Washington resolver um probleminha. Um norte-americano de uma indústria farmacêutica patenteou a ayahuasca. Então ele tem o direito de explorar a planta por 12 anos. Os índios estão sem a planta, ela não é deles, é do cara que lavrou a escritura. Eles reclamam que estão roubando a sabedoria e a alma deles. Mas o norte-americano tem direito não é? Tá na lei. De que adianta o Dia do índio?!