Diário dum louco
O dia amanheceu azul como o dia que amanhece
O Sol depois que passou das montanhas...
Passou das montanhas e brilhou em um lugar que eu podia ver
E eu vi o Sol.
Me cegou, é certo, hoje ando cego mas ainda ando pelo menos.
Depois de ver o sol
Desci a montanha
E lá no topo, na copa de uma árvore, não vi o mar
Estou longe do litoral e isso me deixou triste por três instantes seguidos no meu dia.
Logo esqueci, só pra lembrar aqui.
Queria ter visto o mar, desci..
Já devia estar na altura do mar, e quem não está?
Ninguém está a altura do mar, sinto informar.
Entrei numa caverninha estreita e fedorenta, cheirando a rosa,
Rosa mal dada, fedida.
Tranquei a respiração como um bom mortal
E me fiz de imortal.; ainda antes bati a cabeça numa raiz
E vi que era uma mandioca, sangrando,
E formou-se uma poça sobre os meus pés
A caverna encheu-se de sangue, e o vermelho ficou na altura do mar
Aí eu percebi que era minha testa sangrando
Estanquei o sangue fazendo um torniquete no meu pescoço,
Não conseguia respirar, mas tudo bem
Aguento bastante tempo sem oxigenação no cérebro,
Dois minutos me servem como o resto da vida...
Pior é que é. |