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Infanto_Juvenil-->O sino do rei -- 07/03/2002 - 21:44 (Odir Ramos da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(Recolhido da tradição árabe)

O sino do rei



Na Índia antiga, o rei amava tanto o poder que resolveu mandar fabricar o sino mais possante da face da terra. Pela vontade real, o sino deveria ser fabricado com a mais pura liga metálica para que o som se propagasse, chegando aos lugares mais distantes do reino.

Através do sino a ser instalado no mais alto campanário, o rei enviaria mensagens, editos, proclamas, concederia pensões, indultos, lavraria sentenças, assinaria promoções e nomearia os nobres da Corte.

As badaladas reais, repicando por toda a Índia antiga, teriam o dom de sempre lembrar aos súditos da presença do soberano, tornando-o onipresente, perpetuando o seu poder sobre o povo.

O rei mandou reunir especialistas em fundição para que iniciassem o trabalho. Passados vários dias, depois de muitas tentativas, os técnicos concluíram que não conseguiriam alcançar a liga metálica ideal para o sino. Todas as combinações resultavam negativas, por mais que misturassem materiais.

O território da Índia era muito vasto - diziam os técnicos - para o som se propagar por toda a parte seriam necessários poderosos e ressonantes metais. Mesmo com o árduo trabalho dos fundidores, operando em enormes caldeirões colocados sobre imensos fornos, as ligas metálicas conseguidas só produziam badaladas muito chochas, incompatíveis com o poder real.

Chamou-se o sábio do reino para dirimir a dúvida: haveria ou não composição metálica capaz de atender ao desejo real? O sábio ouviu a todos com atenção e dirigiu-se ao rei:

- O vosso intento poderá ser realizado, majestade. Mas a um custo muito alto.

- Arcarei com qualquer ônus. Temos ouro, toda a riqueza necessária. Qual é o custo? - indagou o monarca.

- Para que o som das badaladas ganhe ressonância e penetre nos lugares mais longínquos será necessário que o metal do sino seja misturado com sangue real.

Para aumentar ainda mais o espanto do rei, o sábio recomendou:

- Na hora de fundir os diversos materiais, Vossa Majestade mandará colocar no caldeirão qualquer dos vossos filhos, ou outro membro da família real. Assim, quando as badaladas propagarem aos quatro ventos as recomendações da realeza, o povo obedecerá com reverência como se fossem as próprias palavras do rei. Este é o preço - concluiu o sábio.
O rei não hesitou. Como andasse desconfiado de um cunhado que poderia estar tramando para lhe usurpar o trono, mandou jogá-lo no caldeirão. Os fundidores cozinharam as pratas, os ferros, os chumbos, e o cunhado real em panelas ferventes, até que a mistura atingiu o ponto de fusão. Colocaram o líquido fervente no molde, deixaram secar.

No dia seguinte foram examinar o trabalho. A linda peça reluzia ao sol, majestosa. Deram-lhe uma leve pancada para experimentar a pureza da vibração sonora, a nota musical produzida envolveu a Índia com maviosidade celestial. Era a vitória!

Recrutaram trezentos trabalhadores, que chegaram com roldanas, carretéis e alavancas. Após sete dias de esforço, instalaram o sino no alto do campanário. O monarca, então, para inaugurá-lo vibrou o badalo com vigor, e até nos confins da Índia chegou a notícia de que o país ganhara o sonoro veículo de comunicação real.

Assim transcorrem-se dezoito anos, a Índia sempre se mantendo informada das decisões da realeza através das badaladas do sino.

O tempo desgasta o poder, mesmo dos melhores monarcas. Aconteceu numa bela manhã: o povo acordou, não se ouviram as badaladas do sino. Nem de manhã, nem de tarde, nem à noite. O campanário lá estava, imponente e silencioso, o sino também. Mudos. Havia até um alegre bando de andorinhas dispostas a fazer ninho nas cornijas, tão sossegado tornara-se o lugar.

O povo, acostumado às ordens reais, viu-se de repente aturdido, sem saber que rumo tomar. Como viver sem os cotidianos proclamas do rei?

Mandaram chamar o sábio. A multidão foi para a praça, era um mar de gente querendo se orientar com o homem que sabia tudo. Perguntavam-lhe, aflitos, se o sino rachara, se o metal já não era o mesmo, o que acontecera com o maravilhoso artefato instalado pelo rei.

Havia gente julgando-se vítima de surdez, infeliz porque o ouvido tornara-se seletivo, funcionava para vozes humanas, balidos de cabras, blaterar de camelos, só não ouvia o sino.

O sábio ouviu as indagações, com paciência, reparando que, na verdade, o povo hipnotizara-se com a música do sino, tornara-se dependente das mensagens diárias, perdera a capacidade de agir por conta própria. O mestre encerrou a audiência, montou na garupa de um elefante para ser avistado e ouvido pela multidão.

Pediu silêncio, o povo guardou profunda expectativa esperando as palavras do sábio, que falou com voz mansa e segura:

- Povo da Índia! O sino está lá, intacto, sem rachaduras, no mesmo lugar de sempre. O metal também é o mesmo, toda a mistura com que foi fabricado permanece igual, sem alterações. Quem mudou foi o rei, com suas intenções. O soberano, justo, generoso e amigo do povo, não existe mais. Seu poder desgastou-se com o tempo, tornou-o maléfico, indigno do nosso respeito. O som emanado do poder ilegítimo não chega e não chegará jamais aos nossos ouvidos! Que Alá vos proteja, como tem protegido vossa audição!

O povo, que ouvira com absoluta clareza as palavras do sábio,as aprovou. Depois, cada qual foi tocar sua vida. O sino real, perdida definitivamente a função, ficou por lá esquecido, do que se aproveitaram as alegres andorinhas para ocupar as cornijas do campanário, chocar os ovinhos e chilrear à vontade...






















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