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Artigos-->Mitos queimando no inferno -- 17/11/2006 - 03:17 (Eduardo Amaro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fôlego homérico. O caminho para a glória é árduo. Subir a montanha, conquistá-la, é tarefa para poucos, nos quais estão incluídos os integrantes do Burning in Hell.

Dois anos e meio após o lançamento do elogiado trabalho homônimo, a respeitada banda gaúcha de power metal melódico lança o álbum Believe, que nos revela uma produção conceitual, digna de bandas que alçaram corajoso vôo, rumo ao cume, conquistando o merecido lugar no ponto mais alto da montanha. Compact Discs conceituais são, em essência, o ouro do brasão, a platônica luz da caverna, os louros dos valorosos guerreiros: pouquíssimos foram dignos de usar, ver ou ostentar.

Profundidade temática, introspecção, nobreza, fidelidade, valores morais, gnose histórica. Believe é um trabalho sui generis: conceitual, suas composições versam sobre mitos, inclusive nacionais, que vêm se ocultando no subconsciente e no imaginário da raça humana por milênios.

É tocante a voz da menina indígena que, na eminência da extinção de sua tribo, não perde a esperança, contempla seus sonhos se dissiparem, esperando que, algum dia, possa encontrar a paz. Little indian voice revela-se como o olhar onipresente de um “eu” que penetra, abissalmente, na alma desta criança, a perfeita metonímia dos ameríndios, devastados, aniquilados pela ganância dos europeus ibéricos, auri sacra fames , como nos ensinou o romano Virgílio.

Medusa, uma reinterpretação do mito de Perseu, filho de Zeus e dono do lendário Pégaso, detentor do escudo de Atena, libera os sentidos que nos remetem aos mais íntimos medos, os quais nos desafiam desde os primórdios. Diante da temível criatura de ofídicos cabelos, capaz de, por um mero olhar, petrificar seu oponente, o jovem Perseu é incitado a vencer o aterrador monstro, o qual nenhum homem ousou antes desafiar, demonstrando assim toda a sua bravura, heroísmo e engenhosidade: “com um escudo de bronze e sandálias aladas para voar sobre a criatura, enquanto ela dorme, ele corta a cabeça dela com sua espada e a usa como proteção, colocando-a no escudo de Atena”.

Believe, faixa título, revela-se como o ideário que perpetra a existência do Burning in Hell: nunca pare de acreditar. A importância do credo na magia, no mito, na lenda, a despeito de toda a mentira, que cerca a nossa vida, é o cerne de Believe.

Eis o espírito da banda, complementado em Never Surrender: “para se tornar um corajoso guerreiro, mantenha o brilho em seus olhos e a honra como a chave para encontrar o lugar eterno”. Coragem, perseverança, princípios, obstinação: características marcantes do quinteto gaúcho que, pelo cavaleiro medieval em questão, são nessa música mimetizadas.

Do medieval para o antigo Egito, Anúbis, o deus cabeça de chacal, guardião dos mortos, é o assunto principal de Guide of Deads. Uma história mítica, envolta em mistérios, na qual o antropomórfico deus faz justiça à sua função: “Ele guia os mortos, então os seus corações serão julgados perante o júri, onde a alma ganhará o direito de passar e viver de novo no além ou ter o coração devorado por um demônio”.

Lembrando as épicas batalhas retratadas com maestria pelo clássico Manowar, “nosso sangue por nosso rei”, os tempos medievais voltam em Save the Queen, save the King, época em que, por honra e por lealdade ao rei, os bravos guerreiros lutavam, até a morte, se necessário fosse.

Stay together forever é a balada do cd. Lirismo in natura, introspecção em 1ª pessoa. Olhando para a lua e para o sol, em um tempo futuro, já modificado, a busca pelo ente amado é o tema dessa composição.

Code of Honour cede espaço aos lendários samurais, guerreiros dos tempos antigos, protetores dos senhores feudais japoneses, homens honrados, corajosos, exímios na batalha e fiéis aos seus princípios. O código dos samurais: a vida é limitada, mas a honra vive eternamente.

Com a participação de Andreas Kisser (Sepultura), The Waterfalls é a mais interessante lenda contada em Believe. Uma história autêntica, nacional, em que o amor de dois jovens indígenas, desafia o poder de um deus. É uma letra inspirada, enigmática, fabulosa, que nos evoca a famosa obra de Ovídio, As Metamorfoses, pela transformação da jovem índia em uma rocha e, após se metamorfosear em serpente, rodopiando o corpo selvagemente, o deus abre uma fenda no rio, gerando cachoeiras (as monumentais cascatas de Foz do Iguaçu), onde o guerreiro índio se precipita, desaparecendo, rumo à morte certa, tal qual Ícaro no Mar Egeu.

A última composição do trabalho narra a história das Parcas latinas, aqui apresentadas como “As deusas do destino”. Goddesses of Fate é dividida em duas partes: a primeira, introduz o ofício das deusas; a segunda, versa sobre o poder que estas divindades possuem, ao tecerem o destino dos homens, tendo a vida humana à sua mercê.

O design de Believe é impecável. A exemplo de Holy Land (Angra), os gaúchos aproveitaram, com exímia criatividade, o tema abordado. A imagética do c.d. é trabalhada com sobreposições e envelhecimento de camadas de cor, o que resulta na impressão de pergaminho que, ao lado do estilo de fonte adotado e das imagens ilustrativas, transforma o encarte em um verdadeiro livro de contos míticos.

Livro que, nas mãos do enigmático mago, manifesta-se na capa do álbum, metaforiza-se em notas musicais, acordes e ritmos empolgantes.

O tom mítico das letras comunga com o som do trabalho: já nos poucos segundos introdutórios de Indian Forest, enfatizados em Little indian voice, o Burning in Hell faz nossa mente mergulhar em um oceano de míticas sensações ícono-sonoplásticas.

Um álbum agressivo, fiel às raízes da banda, que traz uma sonoridade madura, orquestrada com um rigor clássico, ao gosto das musas renascentistas. Apesar da ausência de uma guitarra-base propriamente dita, os acordes, desmembrados nas duas guitarras, incorporam-se, formando uma estrutura similar aos corais clássicos, com polifonias constantes e intervalos não usuais.

Incomum também é o contrabaixo utilizado em Believe: soando independentemente das guitarras, ora executando a melodia do vocal, ora com frases rápidas ou complexas, como em Medusa, composição em que ele faz frases o tempo todo e nem sempre segura a tônica do acorde.

As idéias acústicas, que os demais instrumentos fabulam, são acompanhadas pela bateria, que traz grooves e elementos diferenciados, como os sons tribais. O baterista usa as mãos com assídua freqüência para acompanhar as frases e os solos, o que influencia, diretamente, na musicalidade, resultando em um power metal de qualidade, com arranjos bem elaborados que, ao lado dos vocais e dos instrumentos de corda, aproxima-se de um heavy metal clássico e, ao mesmo tempo, inovador.

Believe é, musicalmente falando, superior ao álbum anterior. Veloz, mais encorpado, técnico, de simbiose temático-sonora, os vocais surpreendem, as guitarras serpenteiam, a bateria e o baixo ditam o frenesi contagiante de um power metal primoroso, nunca antes produzido em território nacional. A banda gaúcha está sobrevoando o monte Helicão! Lá, de onde nem as águias ousam estar, emana o tonitruante som do Burning in Hell.



Ms. Luiz Eduardo Rodrigues Amaro



Ficha Técnica



Leandro Moreira: vocal

Geraldo Aita: guitarra

Tiago Della Vega: guitarra

Éderson Prado: baixo

Marcelo Moreira: bateria



Believe (2006)



1- Indian Forest (instrumental)

2- Little indian voice

3- Medusa

4- Believe

5- Never surrender

6- Guide of deads

7- Save the Queen, save the King

8- Stay together forever

9- Code of honour

10- The Waterfalls

11- Goddesses of Fate – Part I

12- Goddesses of Fate – Part II



Total running: 53’

Gravadora: Encore Records

Contatos: www.burninginhell.com.br ou marcelo@burninginhell.com.br

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